Diário dos Açores

Treinadores de bancada

Previous Article Urge apoiar a imprensa açoriana
Next Article A 2ª orgânica do XIII Governo Regional

Quem segue o fenómeno desportivo, principalmente o futebol, sabe que há milhões de treinadores. Isto só em Portugal. No mundo serão biliões!! A esmagadora maioria são, tal como eu, os chamados treinadores de bancada. E é da bancada que vejo futebol desde o mundial de Itália 90.
A experiência adquirida, já la vai três décadas, é capaz de me habilitar a um daqueles cursos “à la Relvas”. Curso que, por sinal, o mister Ruben Amorim nem precisou de ter (no nível exigido) para ser campeão! Portanto, os milhões que, como eu, não estão formalmente habilitados para o exercício da profissão, têm toda a legitimidade para continuarem a explicar ao selecionador nacional ou ao treinador da equipa A, B ou C como devia fazer; que tática utilizar; que nuances introduzir; como atacar corretamente as bolas paradas; como posicionar o bloco defensivo; a importância da transição ou que a posse não é para todos os pés. E cada um de nós, experts de bancada, teremos sempre muito a corrigir e a alterar nos jogos (muitos) que vemos semanalmente ou até diariamente. O mesmo se passa no campo da política. Todos os que seguem o fenómeno têm, e ainda bem, uma opinião sobre tudo o que vai sendo feito ou até apenas dito por aqueles que formalmente nos representam.
Neste caso, nos cafés, jantares ou meras conversas entre amigos, os falhanços técnicos dos jogadores, os golos cantados, a equipa inicial, as substituições erradas ou a arbitragem dão lugar a questões e temas bem mais importantes para a vida de cada um. Dos impostos à economia. Do RSI à SATA. Da função pública ao empreendedorismo. Do mar ao espaço. Da autonomia ao centralismo. De governantes a partidos políticos. Tudo se “discute” e, por regra, com visões antagónicas. Esta “regra” só é quebrada, isto é, passando a existir unanimidade, quando as falhas e erros são clamorosos. E a verdade é que, nos últimos tempos, tem havido muita unanimidade. Quer a ações ou intervenções do Presidente da República, quer dos Governos, quer das oposições.
Há abordagens desastradas. Há táticas que não se percebem. Há faltas de comparência. Há entradas em campo já a perder por muitos. Há idas a jogo para perder por poucos. Há entradas à campeão que terminam em óbvias goleadas. Há interpretes que são escolhidos para assumirem papéis que não são para eles. Há papéis trocados. Há causas perdidas assumidas por quem quer ganhar. Há silêncios ensurdecedores. Há, no fundo, “jogos” para todos os gostos. Mas não há VAR! E, tal como no futebol, vale uma verdade que uma vez presenciei num estádio aquando de uma “discussão” entre dois adeptos sobre o mérito de um treinador pelo facto do jogador que entrou ter marcado golo ao primeiro toque na bola.
Esse adepto/treinador de bancada recordou que um relógio parado está, duas vezes ao dia, certo! Consertem lá os relógios sff!

*Jurista

Share

Print

Theme picker