Diário dos Açores

O misterioso caso do subsídio de mobilidade

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Se há um caso misterioso digno de chamarmos Hercule Poirot é o do subsídio de mobilidade, um modelo proposto em 2011 e aplicado em 2015, que permite o reembolso aos residentes no montante entre a diferença do bilhete comprado e o valor máximo de 134 euros na viagem aérea de ida e volta.
Quem viaja dos Açores é que sabe o que custa pagar exorbitâncias, pedidas pelas companhias, para depois se deslocar aos CTT para o respectivo reembolso.
Mas há famílias inteiras que não podem pagar de imediato os valores que as companhias cobrem, muitas vezes bastante acima dos 134 euros.
O primeiro-ministro António Costa levou anos a compreender isto e só em 2019 é que descobriu que o actual modelo era “insustentável”.
Foi mais longe e até acrescentou que o modelo era “absurdo e ruinoso” para o Estado, prometendo introduzir alterações de alto a baixo.
Costa até tem razão, o problema é o que ele diz e outra coisa é o que ele faz.
Na verdade, o actual modelo é um ‘negócio’ compensador para as companhias, permitindo um grande rombo no Estado, que é, como quem diz, nos bolsos dos contribuintes.
Entre 2015 e 2019 já tinham sido gastos mais de 200 milhões de euros neste modelo (começou com 17 milhões em 2015 e já ia nos 75 milhões quatro anos depois), um aumento de 170%, quando o aumento do tráfego de passageiros, no mesmo período, foi de apenas 12,5%.
Ou seja, o financiamento deste modelo aumentou quatro vezes mais do que o aumento do tráfego justificaria.
Mas então por que razão ainda não foi alterado?
Mistério!
Mais inexplicável quando o então ministro dos Transportes, Pedro Nuno Santos, denunciou que havia “fraudes e esquemas que envolvem agências de viagens e companhias aéreas”.
E o que é que fizeram?
Criaram um ‘Grupo de Trabalho’ para estudar o assunto, de que, até hoje - outro mistério! - ninguém conhece quais foram as conclusões.
Os partidos no parlamento dos Açores, na semana passada, resolveram analisar o assunto e chamaram Berta Cabral, que propôs... mais um Grupo de Trabalho!
Neste país é assim, quando se é incompetente para resolver qualquer coisa, cria-se um Grupo de Trabalho. Em dois anos e meio António Costa criou 27 e o governo de Passos já tinha criado outros 26!
Não se percebe para que serve mais um Grupo de Trabalho para um caso que está mais do que diagnosticado, só se for para estudar o que fez, até agora... o outro Grupo de Trabalho.
Enquanto isto, lá vamos pagando e rindo, mais de 2 mil dias depois do primeiro-ministro deste pobre país ter prometido, todo zangado, que ia acabar com o modelo “absurdo e ruinoso”.
Continuamos todos sentados à espera.
Ora digam lá se isto não é digno de Agatha Christie.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             ****

RICAS PIPOCAS - Lembram-se da minha crónica da semana passada?
Eu bem avisei que valeria a pena comprar as pipocas.
Vamos continuar a assistir a mais esta trapalhada da promoção turística avulso.
Este governo não tem emenda.
Definitivamente, é uma coligação com permanente instinto suicida.

Osvaldo Cabral
osvaldo.cabral@diariodosacores.pt

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