Diário dos Açores

A História não se apaga!

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A Federação Portuguesa de Futebol chutou para canto a questão do respeito pela História do Futebol Português. Refiro-me, para quem não acompanha de próximo as trapalhadas do futebol nacional, à forma como a direção da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) procurou arrumar, por mais umas décadas, a questão dos títulos nacionais conquistados pelos mais diversos clubes. Esta questão, ou luta, não é uma causa do clube A, B, C ou D. O respeito pela História não tem clube. Ou não devia ter. O respeito é daquelas “coisas” que ou se tem não se tem. Infelizmente, a FPF demonstrou não ter respeito. Nem sequer por si própria!
A FPF, ao contrário das suas congéneres europeias e não só, desde 2005, que tem vindo a fugir a decidir... Aquilo que é (ou devia ser!) da sua inteira e exclusiva responsabilidade.
A FPF, em 2005, ficou em silêncio quando um dos seus associados (e que associado) decidiu, unilateralmente, que o título que acabara de conquistar correspondia à taça de campeão nacional número 31.
Em 1994, ano da conquista anterior, em todo o lado constava no palmarés desse clube 27 títulos nacionais.
A imprensa à data levantou a questão e procurou repostas oficiais relativamente a 3 títulos que até então não eram contabilizados. O silêncio da direção da FPF, que na altura não achou importante criar qualquer grupo de trabalho; pedir qualquer parecer ou sequer convocar uma Assembleia Geral, fez com que a contagem de um passasse a ser a contagem também oficial (ou oficiosa?) da FPF.
Desde aí ficou no ar uma questão: como se chegou àquele número? Foram contadas ligas experimentais ou apenas alguns campeonatos de Portugal? Aparentemente optou-se pela primeira hipótese.
Contudo, esta alegada opção vai contra o que a própria FPF faz constar nas suas atas e livros oficiais. Aí consta, entre outras coisas interessantes, o seguinte: “São campeões de Portugal todos os clubes que ganharam esta prova de 1922 a 1938 e serão campeões Nacionais os clubes que vierem a ganhar a competição, organizada em novos moldes, a partir de 1939.”
Daí que não admire que no site da FPF conste expresso que “Em 1922 foi criado o primeiro campeonato de futebol, sendo que os vencedores desta competição eram considerados os campeões da modalidade em Portugal”.
Saltando no tempo, e mudando o ângulo, a FPF felicitou o internacional português Rafael Leão pela conquista do 19.º “scudetto” do AC Milan. Provavelmente poucos saberão que nesta contagem está um titulo (por sinal o primeiro), conquistado sob outra denominação (ano de 1901), que foi vencido através de um sistema de eliminatórias. Curiosamente o mesmo sistema em que se disputava o então denominado campeonato de Portugal.
São tudo coincidências e curiosidades que servem para atestar as contradições e, principalmente, a falta de respeito pela história do futebol nacional.
Temos, para terminar, uma FPF que celebrou, muito recentemente, o centenário das competições nacionais e que, de forma anedótica, nos quer dizer que em 100 anos tivemos 83 taças de campeão.
É certo que a competição mudou de nome (e moldes), mas também é certo que a História não se apaga!


*Jurista

Hernani Bettencourt*

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