Diário dos Açores

A Cultura das Bandas Filarmónicas

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Manuel, um garoto de 9 anos, natural e residente na Ponta da Ilha, foi há um mês a Aveiro realizar uma prova de avaliação sobre as suas capacidades de interpretação e progressão no instrumento musical que escolheu – o trompete.
Dentre os vários miúdos que se sujeitaram à prova, obteve o quinto lugar – posição que lhe deu, a ele e aos pais, alento para ir mais além na arte dos sons.
A semana passada, frequentou um “master-class” com um professor vindo de fora e os pais concluíram que o filho teria uma apreciável evolução se mais intensa fosse a sua formação. Como aconteceu com a prima Margarida que há três anos decidiu optar pelo ensino profissional na Escola Profissional de Artes da Covilhã, para evoluir mais e mais no clarinete – instrumento da sua predileção.
Nos últimos anos, alguns miúdos e miúdas aqui da Ponta da Ilha, frequentando o ensino básico, tomaram a mesma opção: deixaram a família, os amigos e a terra que os viu nascer e rumaram à Serra da Estrela, em busca de um sonho: ser profissional de um instrumento musical, hipótese que dificilmente concretizarão na pequenez da sua terra. Todos integravam a banda da sua localidade.
Não se pense que as bandas filarmónicas desta ilha têm pouca qualidade. Pelo contrário.
É há muito apreciado o valor das 13 bandas Filarmónicas existentes nos três concelhos: 6 nas Lajes, 4 em São Roque e 3 na Madalena. A mais antiga é a Filarmónica “Liberdade Lajense”, fundada em 1864.
A inexistência de delegações ou polos do Conservatórios Regional da Horta na ilhas do Pico, fez com que as Escolas Básicas e Secundárias tivessem optado por promover as capacidades e apetências dos alunos de Educação Musical, incentivando a aprendizagem de instrumentos, com docentes especializados.
Essa oferta educativa tem-se manifestado muito positivamente, permitindo que os alunos da periferia das “ilhas capitalinas”  desenvolvam as suas capacidades neste domínio.
O nível qualitativo das filarmónicas, formadas na sua grande maioria pelos alunos das escolas, cresceu, devido à grande qualidade dos maestros e à constante atualização dos tocadores.
Com o apoio das autarquias, são frequentes ações de formação ministradas por professores e distintos executantes de vários instrumentos vindos de fora.
Todos estes contributos valorizam as Bandas Filarmónicas, pelo que nos arraiais, os seus concertos musicais são muito apreciados. Os seus reportórios englobam música clássica e peças ligeiras cujos ritmos são do gosto da juventude. Há mesmo partituras musicais que envolvem vozes dos próprios tocadores, imprimindo a essas atuações uma apreciável jovialidade.
Nas Festas de Verão, os festivais de bandas passaram a integrar também a programação dos espetáculos. A população mais idosa não dispensa essas atuações e sabe não só apreciar como ajuizar o seu desempenho.
Na falta de instituições sociais, culturais e juvenis que incluam as várias faixas etárias de uma população em acentuado declínio demográfico, as Bandas Filarmónicas preenchem essa importante função social.
Sempre assim foi, desde que essas instituições musicais foram fundadas, a maioria delas, na segunda metade do século XIX.
E tão importante foram e são para a cultura das nossas gentes que os açorianos as levaram na bagagem cultural para terras de imigração, sinal de que essas instituições são fundamentais para eles afirmarem a diferença e identidade.
Em meu entender, as Festas do Espírito Santo, a Religiosidade popular, as Filarmónicas, a Música Tradicional, a língua e a cultura em geral, são elementos constitutivos do ser açoriano.
Importa salvaguardá-los e fortalecê-los.

    Engrade-Piedade-Pico, 7 de julho de 2022


*Jornalista c.p.239 A
http://escritemdia.blogspot.com

José Gabriel Ávila*

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