Diário dos Açores

Um ano e meio depois

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No dia 25 de outubro de 2020, o PS/Açores perdeu a hegemonia política que lhe permitiu governar, de forma ininterrupta, durante 24 anos. Como sucede em todas as geografias e com todos os partidos, o exercício do poder, durante períodos demasiado longos, cria vícios, instala interesses, promove a inércia e cria uma cultura de arrogância insuportável.
O PS/Açores estava, no dia 25 de outubro de 2020,politicamente isolado. Não tinha aliados possíveis. Nem sequer o Bloco de Esquerda se mostrou disponível para juntar os seus 2 deputados aos 25 do PS e assim formar uma associação superior à que o PSD, o CDS-PP e o PPM acabaram por apresentar ao Representante da República.
O PS de 2020 só pode queixar-se de si próprio e das empresas de sondagens que anteciparam mais uma maioria absoluta do PS. Um dos dirigentes socialistas afirmou,na altura, obviamente a brincar, “que os responsáveis pelas empresas de sondagens que o PS tinha contratado deviam ser presos”, tal foi a dimensão da diferença entre os resultados antecipados nas sondagens e o resultado efetivamente obtido na noite do dia 25 de outubro.
Por incrível que possa parecer, os socialistas prepararam-se melhor, em 2012 e 2016, para enfrentar um hipotético cenário político de perda da maioria absoluta. Promoveram, nos meses que antecederam as eleições, um conjunto de reuniões com o BE, o PCP e o PPM. O mais curioso é que o fizeram em reuniões em que participaram, em simultâneo, os três partidos. Preparavam-se, obviamente, para a eventual perda da maioria absoluta.
Da parte do PPM transmiti-lhes a nossa indisponibilidade para viabilizar um hipotético Governo socialista minoritário. O partido procurava a mudança política nos Açores e isso só seria possível, na época, com a saída do PS do poder.
Mas esse esforço de promover e construir canais de entendimento prévios a um cenário de perda da maioria absoluta por parte do PS, mostra bem como os estrategas socialistas estavam, na época, empenhados em isolar o PSD/Açores no sistema partidário regional e assim garantir a sua própria permanência no poder.
Sempre achei, no entanto, que os esforços do PS/Açores estavam condenados ao fracasso. Os socialistas queriam ter ao seu dispor uma espécie de válvula de segurança, mas não tinham – nem queriam – dar nada de substancial em troca em termos de políticas e de partilha de poder. E também não procuravam qualquer entendimento prévio. Qualquer acordo só seria acionado se o PS não viesse a obter a maioria absoluta. Negociar, na altura, com o PS/Açores assemelhava-se muito a manter uma discussão com um comerciante turco no Grande Bazar de Istambul.
A minha convicção na altura – que mantenho – é que o PS não procurava, verdadeiramente, acordos ou alianças políticas regionais. Apenas queria garantir que o PSD permaneceria isolado no sistema parlamentar regional.
No dia 25 de outubro de 2020, o PS foi finalmente confrontado com os seus piores pesadelos. Perderam a maioria absoluta e ficaram, literalmente, sozinhos e sem apoios no cenário político regional. Os socialistas pagaram um alto preço por décadas de prepotência e arrogância.
A construção de uma maioria alternativa ao PS acabou por ser algo natural. Isto tendo em conta o precedente que o PS criou em 2015 quando criou a “Geringonça” e subiu ao poder nacional apesar de não ter sido o partido mais votado. Algo que, na verdade, sucede com frequência nos diversos sistemas parlamentares europeus, mas que jamais tinha sucedido no nosso país.
Todos os partidos regionais, da esquerda à direita, cresceram, nos últimos anos, através de uma ação política que procurava retirar o PS do poder. Por isso, em 2020, nenhum deles estava em condições de arriscar dar apoio parlamentar a um PS/Açores que se tinha eternizado no poder.
A coligação e os seus parceiros parlamentares estão, efetivamente, a mudar os Açores. No espaço de apenas um ano e meio – um ano com orçamento próprio – promoveram-se alterações de enorme dimensão. Reduziram-se impostos – e, ainda assim, a receita fiscal continua a crescer -, salvou-se o Grupo SATA, incrementou-se a mobilidade interna através da “Tarifa Açores”, aumentaram-se enormemente os apoios sociais como o COMPAMID, o cheque-pequenino, o CEDO, o Complemento ao Abono de Família para crianças e jovens e o inovador programa “Novos Idosos”, pagou-se uma parte substancial da dívida comercial da saúde, melhorou-se a carreira profissional dos trabalhadores de variadíssimas áreas e incrementaram-se os apoios aos sectores tradicionais como a agricultura, as pescas, o comércio e a construção civil.
Tudo isto sem o ruído propagandístico do tristemente célebre Gabinete de Apoio à Comunicação Social e com enorme abertura às boas ideias da oposição. Em apenas um ano e meio aprovaram-se mais propostas da oposição que as que a maioria absoluta do PS deixou passar em três legislaturas.
Este é o futuro. Mais inclusivo. Mais solidário. Mais eficaz.
Com governantes que são os primeiros servidores do Povo, derrubadas que foram as estátuas do velho poder presunçoso que nos governou durante tanto tempo.

Paulo Estevão  *

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