Como pode mudar mais abruptamente o curso monótono do dia do que um olhar a capa “Humor”? Um substantivo simples mas basta escolher como apoio cascatas de adjectivos e o Humor transborda em torrentes de reacções e redenções. Na filosofia de Husserl (1859-1938) criador da fenomenologia, o termo epochê adquire um sentido que compromete o desinteresse pela “contemplação de quaisquer interesses naturais ou psicológicos na existência”. Na fenomenologia a suspensão de juízonão põe em causa a existência, põe o mundo. Apenas coloca tudo “entre parêntesis” como por magia. O real não é removido, mas a consciência transcende-se fora de todos os limites de todo conhecimento possível. Husserl redefiniu a fenomenologia como uma filosofia transcendental-idealista. O seu método pretendia uma redução “Epochê” até encontrar tal redução ÚNICA que tornaria a Filosofia como o “método CAMINHO” da ciência de rigor. A consciência puramente intencional e, por consequência, O RESTO puramente secundários. A consciência é um ser solicitado pelas suas experiências e só intuída apenas quando algo idêntico pertencente a multiplicidades das aparências: para além disso, vivência e mmais nada é. A consciência, nas suas próprias experiências não é determinável senão como aquilo que permanece idêntico na diversidade motivada das aparências. É um fenómeno que, para além dessa identidade, é um “nada” pela necessidade da sua intencionalidade perfeita.
A “Epochê”husserliana acontece quando a intencionalidade é rudemente desligada das circunstâncias. Com o “Humor” que se desliga da continuidade existencial pela repentina destruição da lógica comum, do bom senso ou até do senso comum.
A visão de uma calça e um sapato flutuando instantaneamente sobre uma casca de banana é uma Epochê inexprimível e indizível que só existe intuitivamente.
Antes e depois de ver a casca de banana sob um pé inadvertido, existe a redução que coloca “o Mundo entre parensis”.Há uma demarcação mental da máxima simplicidade e conjuntamente a uma desconstrução da maior complexidade descontinuista da realidade. A mente idealista transcendental afirma o que é impossivel de ver. Não posso observar o que o real me mostra! Eis como o papertalk da capa sai da ”verdade frágil” pela profusão de símbolos, semânticas, metáforas e imaginários que sou obrigada a admitir fora do mundo. A redução e a separação entre o quotidiano e a minha intuição põe “entre parêntesis” qualquer realidade que passa a ser secundária e desconstruída. Assim se conseguiria alcançar a fenomenologia de Husserl e tantos dos seus adeptos.
Na sua obra O “Humor” , do filósofo Terry Eagleton, (1943- ) reconhece-se o mérito de se tratar de um dos intelectuais mais lidos e distinguidos em todo o mundo com publicações sobre teoria literária, crítica, ideologia, política, religião e humor. Ao olhar a capa, talvez o senso comum exclame: - Estúpido! Nada mais óbvio.
Um coração bondoso anunciará tristemente – Coitado! Partiu a perna,com certeza!
Um céptico desconfiado resmungará já irritado:- Idiotas! Querem gozar comigo?
Já um respeitadíssimo intelectualóide gritará: -Depois de olhartal capa nem preciso de folhear o livro!
Um matemático desdenhará – É tão racional que nem vale a pena pensar duas vezes.
Os numerosíssimos adeptos de seitas e auto ajuda olharão desdenhosos. -Já nem sabem que inventar para os tolos,vêr a capa é saber tudo! .
Os cépticos verão logo:- Aqui está um livro com uma armadilha bem montada.
Se a curiosidade se juntar à reflexão, com alguma crítica, alguém descobre o espírito de humor , a falta de senso comum, a dificuldade de atingir “o nada” e podem revoltar-se por não conseguir pensar em “nada” o que já é conhecimento.
Sim! Pensar em nada é prova de grande inteligência já afirmava Lewis Carroll em “Alice no país das maravilhas”. Claro que todos usam uma lógica, mas a capacidade de usar duas ou cinco lógicas ao mesmo tempo só com o domínio da atenção desconstrutiva e construtiva de diversas realidades reduzidas a ausências do Mundo e sua presença, num máximo e mínimo que pode enlouquecer quem não leve o Mágico a sério.. Quem já se viu a querer dominar o riso, numa situação inadequada para isso, já verificou tal impossibilidade que aumenta se houver contágio . Um ataque de riso de um entrevistador, de um assistente a uma cerimónia solene ou religiosa, já se viu a braços com tal dificuldades . Tão sério pode ser o caso que cause a morte de milhares de pessoas Sem precisar procurar no Google, em 1962, em Tanganica deu-se uma epidemia do riso que afectou fortemente muitas instituições juveniscausando a morte a milhares de pessoas.
O humor evolui com as sociedades, as convenções sociais, a política, a cultura e a idade.
-Atenção! Vou dizer uma anedota! Há paises onde é preciso avisar. Para crianças e muita gente de espírito rude o cómico é mais violento e um dito de espírito não é captado. É curioso que, através de épocas bem dierentes se avaliapelo riso as classes sociais e as idiossincracias dos povos. a capacidade de descobrir incongruências entre o trágico e o humor provocadoras de saída da consciência normal e entrada na desorganização das aparências. As instituições sempre tiveram mil cuidados em afastar o riso das suas práticas. Os poderosos seguem normas rígidas e as religiões afastam a oportunidade de uma gargalhada pois aproximar o sagrado do ridículo, equivale a usar a música paraquebrar o terror e o cómico. Só os sábios, os loucos e os rebeldes conhecem o que o horizonte não alcança. O único pedaço de chão que não podemos ver está debaixo dos nossos pés. Ter capacidade de rir é demonstrar força em horas difíceis.
A evolução do humor mostra como nós próprio mudamos ao compararmos a violência humorística infantil ou do “clichê “ do bolo na cara com o sarcasmo fleumático.Durante uma tempestade,um lord inglês lê o jornal no seu castelo.Ao seu lado a esposa faz tricot. Cai um raio. Sem mais palavras, chama o mordomo com a campainha e diz: - Traga-me mais chá e varra a senhora.Passará desapercebido que a esposa tricotava com agulhas de metal e tudo tem um raciocínio sem falhas. Morte inexorável e Vida no âmago de todos os Misterios.
Lúcia Simas *