Diário dos Açores

Patognomónico

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Conselhos de médico

1 – Hoje começamos com esta palavra bem “complicadinha”. Significa que um sinal ou um teste em medicina quando é positivo indica claramente e sem qualquer sombra de dúvidas que estamos na presença de determinada doença.
2 – Existem dezenas, ou talvez centenas, de sinais destes. É muito importante o seu conhecimento por parte dos médicos, pois permite efetuar um diagnóstico “de caras”, rápido, imediato e correto sem necessidade de enviar o doente para outro médico ou para a realização de exames complementares perfeitamente desnecessários, caros, morosos para a sua realização e muitas vezes incorretos. Estes erros podem sair caros ao erário público e muito pior ainda ao doente, com atrasos no diagnóstico ou mesmo com diagnósticos errados.
3 – De seguida vou exemplificar alguns (só alguns) destes sinais patognomónicos. Entre parênteses as doenças ou patologias que indicam. A – Godet – ao fazer pressão com a ponta do dedo fica uma “covinha na perna (edema); Gaveta anterior –na tração do joelho, fletido a 90º, a tíbia desloca-se para a frente (rotura do ligamento cruzado anterior); Bell – ao fechar os olhos devagar o olho doente “roda para cima” antes da pálpebra se fechar (paralisia facial periférica); Finkelstein – provocar a flexão do polegar, com desvio cubital do punho, desencadeia dor intensa junto ao bordo radial do punho (tendinite De Quervain); Fromen – ao tentar encostar o polegar junto ao indicador e apertar uma folha ou um livro fino a “ponta” do polegar faz flexão (paralisia do nervo cubital); Blumberg – na palpação abdominal na fossa ilíaca direita (ponto de Mcburney) existe dor na compressão e muita dor ao retirar a mão rapidamente na “descompressão” (peritonite / apendicite aguda); Choque da rótula – “empurrando” a rótula contra o fémur (com o joelho em extensão e o doente deitado de costas) sente-se a rótula a bater no fémur (derrame articular do joelho); Tínel – com o martelo de reflexos o médico percute na região anterior do punho. Se desencadear uma sensação do tipo choque elétrico que irradia para a mão é positivo (síndrome do túnel cárpico); Lasegue – com o doente em decúbito dorsal faz-se a elevação do membro inferior sem dobrar o joelho. Se aparecer dor irradiada na face posterior da coxa e perna é positivo (dor ciática / hipótese de hérnia discal); Roda dentada – com o doente relaxado o médico faz movimentos passivos rápidos de dorsiflexão do punho ou do tornozelo, extensão do cotovelo e outros. Se existe uma resistência como se fosse uma “cremalheira” de um motor o sinal é positivo (Doença de Parkinson); Tecla de piano – ao carregar na clavícula o médico sente e vê um movimento na articulação semelhante ao da tecla de um piano (luxação acrómio clavicular); Thompson – com o doente deitado de barriga para baixo, sentado com os pés pendentes ou ajoelhado na marquesa com os pés de fora, o médico aperta com a sua mão os músculos da barriga da perna. O teste é negativo se o pé se move “para baixo” (faz flexão plantar). Se o pé não se mexe o teste é positivo (rotura completa do tendão de Aquiles).
4 – Quando eu estava a estudar medicina, na Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa, tinha um “caderninho” onde apontava todos estes sinais com nomes “complicadinhos”, porque achava extraordinário estes médicos terem descoberto estes sinais.
5 – Alguns doentes perguntam se não é necessário fazer exames. Nestes casos não é preciso. É importante explicar aos doentes, e convencê-los, de que o médico tem a certeza do diagnóstico.

NOTA 1 – Este artigo vem a propósito de esta semana eu ter observado um doente (por acaso meu amigo) com este último sinal de Thompson, patognomónico de rotura completa do tendão de Aquiles. Já tinha sido observado por mais outros 3 médicos. Fez inclusive um exame (ecografia) que “não revelou nada”, mas que o doente teve de esperar 3 horas sentado numa cadeira de rodas no serviço de urgência…!!! É claro que um diagnóstico errado conduz quase sempre a uma orientação errada, com consequências negativas para o doente.
NOTA 2 – Que me desculpem os nossos leitores por hoje haver tantas palavras “complicadinhas”. Haja saúde. Haja saúde. Haja saúde.

* Médico fisiatra
e especialista em Medicina Desportiva

António Raposo*

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