Diário dos Açores

A alga, o ambiente e a duna

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Coitados dos GNR. A banda, subentenda-se. É que o Professor Félix Rodrigues decidiu utilizar uma das suas músicas mais famosas para defender que o setor do ambiente vai muito bem agora, e só ia mal no tempo dos outros senhores. Ou melhor, Félix Rodrigues decidiu utilizar a letra da famosa “Dunas”, para reconhecer que este XIII Governo dos Açores nada faz em relação às atrocidades ambientais em curso, mas pronto, está tudo bem, porque o anterior Governo também não fazia. E, portanto, importa acima de tudo chamar alegados hipócritas à oposição e ignorar o perigo crescente que assola o arquipélago dos Açores.
Pior do que isso, o Professor ainda chamou a atenção no seu artigo para o facto de estar a citar uma das mais icónicas músicas pop feitas em português, assumindo, essencialmente, que acha que os GNR já passaram à história. E todos sabemos que história não é disciplina lecionada no curso de “tudologia” da Universidade dos Açores.
Coitados dos GNR.
Face ao artigo de Félix Rodrigues, mas mais importante ainda, face ao perigo crescente na ilha do Faial, importa procurar esclarecer o leitor menos atento quanto ao que se passa em Porto Pim, nas costas sul e norte de São Miguel e, agora, no Pico e São Jorge.
É verdade que desde 2019, pelo menos, já se fala nas algas que andam a invadir as nossas costas, que por agora se visualiza com particular ênfase naquela baía que tão bem abrilhanta a cidade da Horta.
Mais verdade ainda é o facto de investigadores e verdadeiros cientistas, bem como mergulhadores recreativos e profissionais, terem vindo cada vez mais a chamar a atenção para o perigo que essa alga vai trazendo, para a saúde pública e para o ambiente, em geral. A vida marinha desaparece, literalmente, de muitas zonas onde a alga cresce e se multiplica biblicamente. Sufoca tudo em seu redor.
Como se fosse uma máquina de construção a destruir uma bela duna de areia para construir uma rampa de alcatrão sujo, e o governo viesse a correr atrás do prejuízo, em câmara lenta, como na TV.
A dita alga, que apresenta o tenebroso nome de Rugulopteryxokamurae, já marcou profundo impacto em várias regiões do Mediterrâneo, tendo mesmo afetado a própria atividade piscatória e a operacionalidade de embarcações nas áreas do turismo, para além de provocar um decréscimo acentuado na qualidade ambiental.
Não agindo de forma atempada e assertiva, os Açores passarão a ter um problema grave em mãos. O setor das pescas ficará comprometido com a perda de espécies. O mergulho irá tornar-se incomportável. A economia será afetada. A saúde pública irá piorar. O cheiro, que à primeira vista pode parecer um mal menor, irá dificultar a vida de quem vive à beira-mar, e reduzir a vontade de permanência de quem nos visita.
Os nossos vizinhos, em Espanha, já declararam esse evento uma “catástrofe ambiental”.
Considerando a ameaça real que esta macroalga significa para a vida marinha, há a necessidade de garantir a implementação urgente, em articulação com a comunidade científica, de estudos que permitam avaliar a extensão da atual invasão, bem como os impactos que a mesma irá trazer, nas áreas já mencionadas, de forma a perceber como se poderá agir preventivamente. O Bloco de Esquerda apresentou, neste mês de julho, uma proposta que visava precisamente incitar o membro do Governo responsável pelo ambiente e pelas alterações climáticas a tomar medidas nesse sentido.
A resposta, como já foi possível constatar, passou por cantar sobre Dunas, selar segredos e saltar rochedos.
No final do mês de junho, José Manuel Bolieiro falou em Lisboa, na Conferência das Nações Unidas para os Oceanos, frisando o orgulho que tinha no facto de os Açores serem líderes na preservação e conservação dos seus recursos marinhos. O mesmo José Manuel Bolieiro que lidera uma coligação que votou contra a referida proposta do Bloco de Esquerda. O mesmo CDS que se preocupa em cantar os GNR e falar de hipocrisias passadas, ignorando a ameaça do futuro. O mesmo PPM que se diz ecologista, mas que suspeitamos nem conhecer o significado da palavra, quanto mais preocupar-se com o seu conteúdo.
A coligação alegou que a proposta era extemporânea. E o Bloco afirma que a proposta só ocorre fora do tempo desejável porque já começa a ser tarde para tomar medidas urgentes. Quanto mais tempo passarmos com esta gestão ambiental, mais extemporânea será a ameaça, porque mais grave ela se irá revelar para a Região, certamente.
Ficamos sem saber, então, se José Manuel Bolieiro conhece o seu Secretário Regional do Ambiente das Alterações Climáticas, e se terá orgulho na falta de ação do mesmo face a este assunto. Tudo o que essa Secretaria fez, nos últimos tempos, parece ser com o propósito de ofender o ambiente.
Estamos a perder tempo.
Estamos a perder o recurso mais valioso dos Açores.
Estamos a perder mar.


*Deputada do BE na ALRAA

Alexandra Manes*

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