Toda a gente sabe muito bem que a Feira do Livro de Lisboa, que já vai na 92ª realização, não é só de Lisboa: é, de facto, muito mais do que isso, é de Portugal, é da cultura portuguesa e é da lusofonia. É, pois, um grande acontecimento, que mostra o que há de melhor na escrita e no pensamento português e em português. De resto, é o maior certame do género que se realiza no nosso país.
Surgiu a informação pública de que os Açores, mais uma vez, não estarão presentes na Feira do Livro de Lisboa, porque alegadamente o modelo da participação açoriana está a ser repensado ou redesenhado, não me competindo tentar interpretar tais palavras.
A 92ª Feira do Livro de Lisboa contará com 340 pavilhões, distribuídos por 140 participantes, que representam centenas de marcas editoriais. Decorrerá no belo Parque Eduardo VII, entre 25 de Agosto e 11 de Setembro, com um conceito totalmente novo, dinâmico e repleto de novidades. Será, assim, a maior Feira do Livro de Lisboa até agora, segundo a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), a prestigiada entidade organizadora.
Nos Açores há boa produção literária, talentosos escritores, reconhecidas editoras e prestigiadas instituições culturais. Temos belas paisagens e bonitas vacas, mas somos mais do que isso, nomeadamente no plano cultural. Por isso, seria do maior interesse que os Açores tivessem um pavilhão próprio e digno na Feira do Livro de Lisboa. Temos muito para mostrar, divulgar e promover. A literatura açoriana, a literatura de significação açoriana ou a literatura portuguesa produzida nos Açores - tudo conceitos aceitáveis e compreensíveis, segundo a interpretação e o sentir de cada um - tem um valor próprio e dá-nos uma dimensão superior.
Quando se realiza, anualmente, a Feira de Turismo de Lisboa, não faltam participações e presenças açorianas, talvez até em demasia, mas quanto à Feira do Livro de Lisboa verifica-se, pelos vistos, uma estranha auto-marginalização. Não podem é dizer depois que a Feira do Livro de Lisboa é marcada pelo centralismo e que ignora os Açores.
Consta que, no passado, a Direção Regional dos Assuntos Culturais (DRAC) alugava, pelo menos, dois pavilhões na Feira do Livro de Lisboa, onde eram expostas as obras lançadas por todos os editores açorianos que o desejassem. Consta, igualmente, que era a DRAC que pagava as despesas, incluindo os transportes dos livros nos dois sentidos. Portanto, não se compreende que existam agora dificuldades e burocracias que impedem a participação dos Açores na grande, prestigiada e valiosa Feira do Livro de Lisboa, que tem uma vertente cultural de grande mérito e tem, simultaneamente, uma não menos importante vertente comercial, de reconhecido e compreensível interesse para os próprios autores, editores e livreiros. Os Açores ficam, pois, a perder muito não estando presentes na Feira do Livro de Lisboa.
Tomás Quental Mota Vieira *