Diário dos Açores

Herpes zóster. O povo chama-lhe Zona, Quebrela, Cobrão e Cobreiro

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Conselhos de médico

1 – Esta doença é uma infeção viral provocada pelo mesmo vírus da varicela, neste caso o vírus chama-se varicella zóster. Uma pessoa que já teve a doença pode voltar a ter nova infeção, uma vez que o vírus pode ficar “alojado” no gânglio da raiz do nervo numa forma latente. À semelhança de muitos outros vírus este também é chamado de “oportunista”, pois só ataca quando o hospedeiro está fraco e com as resistências “em baixo”. É um vírus da mesma família do herpes simples que causa a doença do herpes labial.
2 – A “Zona” deve o seu nome ao facto do vírus “atacar” o território de um nervo e depois aparecerem as lesões cutâneas no seu trajeto, dando a sensação (e na verdade é) de que só afeta uma zona.
3 – O principal sintoma é a DOR intensa no trajeto do nervo. Antes do aparecimento das lesões cutâneas a dor pode ser confundida com uma série de outras doenças. Nesta fase o diagnóstico é muito difícil e o importante é excluir a presença de alguma doença grave que possa desencadear uma dor tão intensa. Depois de um período de incubação que pode variar muito de pessoa para pessoa começam a aparecer umas “manchas avermelhadas” no trajeto do nervo. Estas manchas depois evoluem para vesículas com uma espécie de pus no seu interior. Na fase mais tardia estas vesículas dão lugar a crostas de cicatrização.
4 – A acompanhar a dor intensa e as lesões da pele podem aparecer outros sintomas como sensação de calor, comichão, alterações da sensibilidade, dormência e ou formigueiro. As alterações da sensibilidade podem ser de tal forma incomodativas que o simples contacto com a roupa pode desencadear uma sensação de dor intensa muito desagradável. Como a doença é uma infeção viral pode também aparecer sintomas gerais de febre, arrepios de frio, dores de cabeça, dores no “corpo todo”, cansaço fácil e uma sensação de “mal-estar geral”.
5 – A sua forma de transmissão pode ser através do contacto direto com o líquido das vesículas, ou através de objetos contaminados. Habitualmente após a fase de aparecimento das vesículas o perigo de contágio dura cerca de uma a duas semanas. O período de incubação é o tempo que leva entre a pessoa ter o contacto e aparecerem os primeiros sintomas. Neste caso este período é curto e é de 2 a 4 dias, mas como as lesões cutâneas só aparecem mais tarde o tempo que se leva para um diagnóstico “de certeza” é por vezes muito superior.
6 – O tratamento é feito à base de medicamentos antivirais (aciclovir, fanciclovir, valaciclovir, etc.). Com a medicação pretende-se diminuir a multiplicação do vírus, diminuir a “eclosão” das vesículas e bolhas e diminuir a duração e a intensidade da doença. O tratamento da DOR INTENSA pode ser um autêntico desafio para o médico. Analgésicos (por vezes até opiáceos), antidepressivos, anticonvulsivantes (medicamentos para a epilepsia), neurolépticos e outros são utilizados numa tentativa de aliviar as queixas de dores “horríveis” que estes doentes podem sentir. A aplicação local de pomadas anestésicas (por exemplo com lidocaína) pode ser uma ajuda para o combate à dor.
7 – Em alguns casos, na nevralgia pós herpética, recorre-se a infiltrações locais com toxina botulínica, bloqueios da raiz do nervo, radiofrequência, injeções locais com cortisona (tem riscos porque pode diminuir a imunidade “ainda mais”) e até aplicação de opióides diretamente no espaço epidural. A nevralgia pós herpética é uma dor crónica que “fica” mesmo depois da doença já ter passado. Deve ser tratada com muita determinação para que não se prolongue demasiado no tempo porque, em caso contrário, pode mesmo ficar uma dor crónica para o resto da vida.
8 – Se esta doença afeta o nervo facial no seu trajeto no “interior” do ouvido, pode ser a causa de uma paralisia facial periférica. A “Zona” mais frequente é nos nervos do tórax, com lesões e dores desde a região da coluna dorsal até à região mediana do esterno ou do abdómen, aparecendo de uma forma unilateral.

NOTA 1 – Os vírus podem atacar a qualquer momento. Não é só o “novo coronavírus” que nos pode atormentar.
NOTA 2 – Proteja-se. Se estiver doente procure ajuda. Haja saúde. Haja saúde. Haja saúde. Se está de férias goze-as bem e não esqueça os cuidados com os acidentes “de verão” e com a proteção solar.

António Raposo*
* Médico fisiatra e especialista em Medicina Desportiva

 

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