Diário dos Açores

Nadar para a frente

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A minha sobrinha mais nova não gostava de mar.
Este ano é o primeiro em que está a aproveitar a leveza de estar de molho num dia de verão.
Antes, por mais que argumentássemos para a tentar convencer, era escusado. Preferia fazer castelos na areia, molhar os pés, mas nada de muitas confianças com a água.
Agora, do alto dos seus quatro anos, e sem que nada o fizesse prever, meteu-se na piscina dos Biscoitos com as suas braçadeiras, começou a bater pé e lá foi ela. Agora até “sei nadar de costas e para a frente, tia”. Acha-se uma nadadora olímpica, e eu, pouco tendenciosa, também.
Na verdade, ela nunca tinha ido para lá daquilo que lhe era conhecido.
Afinal essas são as fases da descoberta e ainda existem mais situações fora da nossa zona de conforto do que dentro dela.
Mas e nós, adultos?
Qual a nossa desculpa para vivermos agarrados aos limites que impusemos a nós mesmos?
Muitas vezes tudo se resume a uma palavra: conforto.
Gosto de imaginar a zona de conforto como uma bolha segura, com tudo o que nos é conhecido lá dentro: a nossa casa, a rotina do nosso trabalho, os nossos horários, a alimentação que normalmente fazemos, as pessoas com quem nos relacionamos, e tudo aquilo a que estamos habituados. É, na verdade, um lugar de hábitos. E é um lugar bom, daí ser “confortável”.
Era aí que estavam as brincadeiras na areia e o molhar os pés da minha sobrinha.
Apesar de ser aconchegante, essa área restrita feita de estruturas conhecidas é limitadora e pode impedir-nos de aproveitar coisas tão simples como dar um mergulho num dia quente de verão.
Cada vez que saímos da zona de conforto e entramos na zona de desafio, praticando alguma ação que não faz parte das nossas rotinas ou hábitos, estamos a contribuir para que a nossa bolha segura aumente. E passamos a estar mais confortáveis em situações que antes nos pareciam desafiantes.
Voltando à minha nadadora profissional, para ela, agora, ir para o mar é natural. Já não precisa de pensar antes de o fazer, nem tem receio de nadar.
Quando nos deparamos com uma situação que está para além da nossa zona de conforto, sentimos que podemos errar, ou que podemos estar a correr algum tipo de risco e que o melhor, talvez, seja fazer o que sempre fizemos.
Mas, como dizia um treinador de futebol “e se corre bem?”.
Se dermos o passo para a zona de desafio, o mais provável é no fim termos a sensação de superação, e começamos aos poucos a incorporar esse comportamento.
Aliás, se pensar no momento mais feliz da sua vida, é provável que se aperceba que ele não fazia parte daquilo que considerava serem os seus hábitos. Provavelmente esse momento implicou algum desconforto ou desafio. Mas no fim traduziu-se numa coisa boa e em crescimento.
Tente identificar se a situação está dentro ou fora da sua zona de conforto. Exemplo: Convidam-no para um novo trabalho, e o seu primeiro pensamento é recusar por considerar que não tem conhecimentos suficientes. Será que é medo do desconhecido?
Identifique situações semelhantes nas quais arriscou e cujo resultado foi positivo.
Crie uma lista de prós e contras quando se deparar com um desafio.
Fale com alguém que já ultrapassou uma situação semelhante.
Todas as semanas faça uma ação que não faz parte dos seus hábitos. Faça um percurso diferente para o trabalho, vá a um restaurante que nunca foi, vista algo de uma cor que não costuma usar, aproveite o final do dia para fazer alguma atividade que não faz parte dos seus hábitos.
Lembre-se, se fosse muito fácil fazer coisas que nos deixam desconfortáveis andávamos todos a dar mergulhos de cabeça no cais da Silveira. Não sendo, experimente, aos poucos, dar umas braçadas fora da sua bolha e continue a “nadar para a frente”.  

*Licenciada em Jornalismo e Comunicação, coach certificada, formadora em Comunicação e Desenvolvimento Pessoal

Andreia M. Pereira*

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