Diário dos Açores

Portugal em chamas

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Tinha ideia de já ter aqui abordado o tema dos incêndios florestais no nosso País. Fui verificar e encontrei um texto com um título parecido ao que hoje me ocorre - Portugal a arder - por sinal o primeiro da série ininterrupta que se tem seguido depois disso, com periodicidade semanal. A data da publicação foi 22 de Setembro de 2017, ou seja fará em breve cinco anos!
Reli-o atentamente e está lá tudo o que sobre a matéria se pode dizer... Mas já passaram cinco anos e em cada Verão tem sido sempre a mesma coisa, num ritual de destruição e de dor, que já se não consegue suportar.
Afinal, as medidas de cada vez prometidas têm sido ou não executadas? Nota-se que há de facto mais meios envolvidos no combate aos fogos: bombeiros, carros, aviões. Mas então como é que tudo se repete como no ano passado e nos anteriores? As providências de prevenção têm sido suficientes? Parece que não!
Este ano o fogo não deu tréguas durante dias a fio, destruindo metodicamente o património natural da Serra da Estrela, que é um Parque Nacional, como tal legalmente classificado e portanto sob a responsabilidade directa do Estado e dos seus diversos serviços. E a pobre gente que ainda habita nessas serranias viu-se forçada a fugir, enquanto os seus pertences eram consumidos pelas chamas, neles se incluindo as lavras, os animais e as alfaias agrícolas. Salvam-se as pessoas, ao menos, o que já não é mau... Mas o que a televisão nos mostra é um cenário de ruína e até nem notei que alguém tenha sequer mencionado a próxima definição de ajudas públicas destinadas a reparar o que se perdeu.
Aliás, para muitas das vítimas dos incêndios florestais o que se parece ter já sido perdido definitivamente é a esperança. Sim, a esperança de que os seus esforços de reconstrução não sejam vãos, que não se repita o susto e a perda em cada novo Verão. E compreende-se que assim seja, quando se tem em conta que a maior parte dos envolvidos na tragédia são pessoas idosas, curtidas pelos azares de uma vida dura e difícil, agravada nos anos mais recentes pela recorrência dos incêndios devastadores.
Dizem que o Pinhal de Leiria, de tantas e tão fortes ressonâncias históricas, que ardeu há já alguns anos, se encontra quase na mesma e que a recuperação dele não passou de mais uma promessa não cumprida. Na Serra da Estrela acumula-se agora cinza em grande quantidade, que, se não for removida a tempo, faz temer novos tipos de desastres quando vierem as chuvas e os detritos forem arrastados para o leito dos rios que lá nascem, o Mondego, nomeadamente, ou passam pelas suas imediações.
Este cenário desolador é capaz de agravar o decadentismo e a falta de confiança num futuro radioso para Portugal e para as novas gerações de portugueses. Enquanto a população envelhece e se reduz, os problemas mantêm-se sempre os mesmos... E o território é afinal a nossa derradeira referência de identificação nacional - território que vemos tão maltratado, despovoado e ao abandono, quero referir-me à sua zona interior e anteriormente fronteiriça.
Convinha muito tirar conclusões destes últimos acontecimentos. E definir algumas linhas de rumo, que prevenissem efectivamente que o que agora estamos padecendo não volta a repetir-se, com monotonia entediante. Não se pedem grandes rasgos, nem medidas fabulosas, mas um pouco  mais de competência e de amor a Portugal.

* (Por convicção pessoal, o Autor não respeita o assim chamado
Acordo Ortográfico.)    

João Bosco Mota Amaral*

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