Diário dos Açores

Alergia a festas

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Vejo crianças famintas e sequiosas quilómetros à cata de uma gota de água e nós deixamos que as ribeiras açorianas descarreguem torrentes no mar, sem as armazenarmos.

Observo as condições de tantos hospitais no mundo e dou graças por termos um SNS que funciona, apesar de cronicamente atacado pelos interesses privados e sistematicamente suborçamentado. Os meus contactos com o SNS são satisfatórios e gratuitos. Não esqueço os avanços na taxa de mortalidade infantil antes e depois do 25 de abril que servem de exemplo.
Nos Açores, aumenta a violência e crime, com a omnipresente adicção a drogas (muitas delas artificiais), ainda sem comparação a países onde é endémica. Os alunos e cidadãos aqui ainda não andam aos tiros em centros comerciais e liceus.
Creio que a maior e fundamentada queixa será na justiça, onde a corrupção e leis que favorecem nepotismo são motivo de preocupação. Roubam milhões que podiam fazer de Portugal um país mais justo e equitativo. Há pior, mas alguns não acreditam.
Em termos de liberdade de imprensa (10º lugar na UE 2020) ainda a temos, mas faltam jornalistas livres, preferindo bajular e beijar o traseiro dos patrões com medo de perderem o tacho.
A educação é tão má como as outras, o que nos distingue são baixos salários, má estruturação de carreiras, falta de formação dos docentes. Longe vão os tempos dos professores da Escola do Magistério que ensinavam as primeiras letras (ora, todos doutores, sabem pouco).
Na ciência e tecnologia temos cientistas de primeira água e técnicos de renome internacional (nem todos emigraram, embora não sejam reconhecidos nem acarinhados no país).
O trabalhador em Portugal, explorado a troco de salários miseráveis e alta improdutividade, inserido num sistema de meritocracia estrangeira alcandora-se a elevados níveis. A falha não é dos trabalhadores mas do sistema, o Estado que tudo taxa, e a maioria dos “empresários” quase iletrados, invejosos e sem capacidade para preencherem os lugares que ocupam.
Temos desportistas de valor mundial (não no futebol que enche telejornais, no atletismo, desportos adaptados, que não chegam às manchetes, do automobilismo ao motociclismo).
Além disto temos um país cheio de belezas naturais, de todos os tipos, tamanhos e feitios, que os políticos e autarcas não conseguiram destruir por completo (exceto na orla algarvia). O clima nem é dos piores e ainda é gratuito, mas a construção habitacional esqueceu-se de valores térmicos que nos protejam do frio e do calor, e normas sísmicas que deveriam vigorar.
Os impostos são altos, os combustíveis exorbitantes (sobrecarregados de taxas, como a eletricidade) e existe enorme desigualdade socioeconómica mas há países em piores condições. Pelos carros de luxo e férias no estrangeiro, ninguém diria que somos um país pobre.
Pequenos somos na mentalidade, na visão que temos, na falta de ambição, na acomodação ou aceitação do fado, na perpetuação dos vícios da Santa Inquisição e da PIDE, mas com os milhares de emigrados, será uma questão de tempo para as mentes se abrirem às velas do progresso e desfazerem as teias bafientas dos antepassados.
Temos a mania salazarenta de sermos um país pequeno, esquecendo a enorme mancha marítima que as Regiões Autónomas proporcionam à descontinuidade territorial.
Enfim, somos mesmo ingratos sem apreciarmos o que temos e outros cobiçam.


*Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713

Chrys Chrystello*

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