Diário dos Açores

Casa da Autonomia ou casa do Big Brother?

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A Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores é, desde há muito tempo, um sítio pouco recomendável a pessoas sensíveis. No dia que se der inicio às transmissões do “Canal Parlamento” (que continue na gaveta por muitos anos!), para além da enorme criatividade que será necessária para preencher os tempos dedicados a pausas, intervalos e afins, convém, antes do início de cada sessão parlamentar colocar aqueles avisos que estamos habituados a ver nos filmes ou séries com linguagem e cenas que podem ferir a suscetibilidade dos espetadores.
 O período legislativo de setembro (plenário) foi, infelizmente, apenas mais uma capitulo de um triste filme que roda há demasiado tempo. Acusações de dedo em riste; dedos obscenos; gritaria e muita, muita, falta de noção e, já agora, de vergonha. Por vezes, como ouvi por aí, fica a dúvida se estamos na “Casa da Autonomia” ou na “Casa do BigBrother”.
Da minha parte, até preferia que fosse mesmo na “Casa do Big Brother”. E sabem porquê? É que nesta podemos “expulsar” semanalmente quem não se comporta convenientemente. Na “Casa da Autonomia” temos de esperar pelo fim do mandato. Teremos mesmo? Vamos, mesmo, continuar a assistir a isto durante mais dois anos? A resposta só pode ser dada pelos inquilinos da casa.
Está nas mãos destes dignificar a Autonomia. E, para tal, não pode existir sondagem nenhuma que justifique esta contínua luta na lama. O Povo, e não me refiro à meia dúzia que teima em assistir a espetáculos degradantes, devia merecer o respeito de quem o está temporariamente a representar. Arrastar esta situação significa ser cúmplice de um período muito negro na Autonomia. Exige-se, a quem tem poder regimental para tal, que avance rapidamente para uma clarificação. O medo do veredito popular a tal ação não pode ser sequer colocado em cima de nenhuma mesa. Nem em pensamento! Está em causa o bom nome e a imagem dos Açores.
O primeiro órgão da Autonomia não é, não pode ser, aquilo que todos vemos. Desculpem a minha extrema sensibilidade, mas a escalada verbal a que temos assistido (e ainda bem que na transmissão não se ouve o que dizem terceiros), conjugada com as acusações de todos os tipos que se fazem ao Governo e do Governo a alguns Deputados e, ainda, a um clima de suspeição que paira no ar, exige medidas. Para ontem! É tempo dos representantes do Povo, pelo menos os mais sentados, saírem da redoma onde estão. É tempo de deixar o individual e colocar o chip do coletivo. É tempo de ouvir e respeitar o mundo real. É tempo de agir e não de fazer de contas. É tempo de senadores! É tempo, por isso, de dar ouvidos ao Doutor José Contente que no seu mais recente artigo de opinião terminava escrevendo que “Urge libertar os Açorianos desta bolha de caos.” De que está à espera o PS?

 

*Jurista

Hernani Bettencourt*

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