Diário dos Açores

Independências

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Transparência

O Brasil celebra por estes dias os 200 anos da sua Independência, com as repúblicas atuais a carregarem o coração monárquico de Pedro IV de Portugal e primeiro do Brasil, em macabro ritual relicário.
Um rei que gritou “independência ou morte” a 7,700 quilómetros de distância da capital do reino, sem que Lisboa pudesse mexer um palito. Bem tentou, mas em vão…!
A contestação já deflagrava em vários sítios na vastidão brasileira e o príncipe-herdeiro sabia que a única alternativa para evitar males maiores, seria declarar uma “independência unilateral” para acalmar os ânimos e manter unida toda aquela vastidão geográfica sul-americana.
No regresso de Angola, Marcelo lá foi dar uma lição de História a Bolsonaro sobre Pedro, o playboy que depois quis ser imperador, ao mesmo tempo que colecionava haréns femininos nos seus aposentos.
De repente, morre a Rainha Isabel II e Marcelo tem uma semana para se preparar e estar presente no funeral em Londres. Demasiada correria para qualquer septuagenário.
As contradições da História arrecadam peripécias só dignas de mágicos da política.
O resto do império colonial português teria de esperar um século e meio para que a Liberdade tocasse os seus territórios. Apenas após o golpe militar de 25 de abril de 1974, os novos dirigentes portugueses foram novamente forçados a independentizar as colónias de África, já que estas lutavam há mais de quinze anos para se libertarem do jugo colonialista português.
Foram as lutas armadas pelos povos em todas as geografias coloniais portuguesas, a única via possível para a libertação. No Brasil como na África ou na Ásia, a revolta exigiu o reconhecimento soberano a países que nasceram e hoje são membros da CPLP e amigos de Portugal. Sem essa luta armada, a História teria certamente sido diferente. E quem são os países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa? Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Na introdução do portal da CPLP pode ler-se:
“A área do globo terrestre ocupada pelos nove Estados-membros da CPLP é muito vasta. São 10 742 000 km2 de terras, 7,2 por cento da terra do planeta (148 939 063 km2), espalhadas por quatro Continentes – Europa, América, África, Ásia.
Situado Situado maioritariamente no hemisfério sul, este espaço descontínuo abrange realidades tão diversas como a do Brasil, quinto país do mundo pela superfície, como o minúsculo arquipélago de São Tomé e Príncipe, o Estado mais pequeno, em área, de África. O clima, a fauna e a flora são variados, correspondentes à diversidade das latitudes em que se situam os vários países membros. Com exceção de Portugal, de clima temperado com variantes oceânica e mediterrânea, a maior parte da CPLP situa-se na zona tropical subequatorial.
Os índices de pluviosidade determinam grandes diferenças de paisagens naturais, às vezes dentro de um só país, como acontece no Brasil – das estepes semiáridas do Nordeste à selva amazónica – e em Angola – da floresta do Mayombe ao deserto de Namibe e às savanas inundáveis do Zambeze, por exemplo.”
Todas as ex-colónias portuguesas tiveram guerras e batalhas para a sua libertação. Portugal deu mesmo o estatuto de país soberano a São Tomé e Príncipe, fazendo desta nação uma das mais pequenas do mundo, com uma população mais pequena do que a dos Açores, ou seja, 204,450 habitantes (estimativa de 2018). Tal como nos Açores e na Madeira, as Ilhas de São Tomé e Príncipe não eram habitadas. Foram povoadas pelos portugueses que se misturaram com os escravos trazidos das costas africanas. O mesmo aconteceu com Cabo Verde.
A História regista 1975 como o ano da quási-independência dos Açores, não fora as traições de alguns intervenientes, cuja ambição política foi comprada por trinta mentiras.
As revoltas explosivas daquela altura, teriam justificado a independência dos Açores, que seria hoje um país com meio século de vida e membro da CPLP como São Tomé e Príncipe.
Uma soberania que morreu na praia…
Em seu lugar, temos uma autonomia cada vez mais castrada, estéril, infecunda, virada para sustentar poderes comezinhos e corriqueiros, repleta de banalidades atiradas por Lisboa à laia de chuva de confettis. Conseguiram, por agora, adormecer sonhos de independências. Até quando esta sonolência moribunda?

José Soares *

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