Diário dos Açores

Preocupações que renderam votos, mas já não preocupam

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O orçamento aprovado há poucos dias para o parlamento dos Açores e o estado das contas públicas regionais remeteram-me para um tempo ainda fresco  em que da parte do PSD e das suas emanações da IL e do Chega, caloiros da vida política regional e nacional, bem como dos seus promotores económicos, particularmente a Câmara de Comércio de Ponta Delgada, choviam as críticas semanais ao excesso de despesa pública, ao aumento do défice, aos perigos estratégicos do cada vez maior endividamento regional, ao excessivo peso do Estado e do número de deputados do parlamento. 
Em paralelo com a corrupção, a comunicação social e as redes sociais empolavam quotidianamente estes assuntos de uma forma bem mais excessiva que os próprios excessos denunciados. Era um arrastado fartum que já fedia por todas os poros…
Mas, como que por milagre, esse ambiente doentio e pernicioso para a democracia desapareceu logo após as últimas eleições para a República e para os Açores, em que Costa, jogando à direita, fintou esta última, e em que se formou nos Açores uma maioria parlamentar de suporte governamental juntando todas as direitas e extrema-direita, quando o Chega e a IL assentaram de forma mais estável os seus traseiros nas cadeiras parlamentares…
Dir-se-ia que o anterior sufoco informativo e condicionador do juízo dos cidadãos deixou subitamente de interessar ao mundo porque a despesa pública, os défices das contas da região e do estado diminuíram, porque os parlamentos sofreram um saudável corte no número de deputados, no tamanho dos seus gabinetes e dos seus salários, ou porque o pernicioso endividamento público baixou.
  Mas não, os números mais recentes mostram precisamente o contrário.
O orçamento do parlamento açoriano aprovado para 2023 é o maior de sempre, os gabinetes dos deputados irão ser reforçados e o número de deputados manteve-se. 
Com o governo de Bolieiro, que juntou as direitas e a extrema-direita, o endividamento público contraído pela região atingiu valores impressionantes e gerou o maior défice de sempre das contas públicas.
Então a explicação mais plausível parece ser a de que as redes e a comunicação social que alimentaram o sufoco informativo de que temos vindo a falar provavelmente refletiam menos a voz dos cidadãos do que a voz do dono e dos “influencers” que, entretanto, rapidamente deixaram de se queixar e de se assustar com a bancarrota depois de, muito à custa desse sufoco, terem adquirido os votos necessários para se abeirarem do poder e ganharem assentos parlamentares. A isto chama-se demagogia da mais descarada…
É preciso que se diga de forma clara: o Estado “magro” não será forçosamente melhor. 
Na verdade, o Estado somos nós e muito provavelmente temos todo o interesse em que os parlamentos e os outros órgãos de poder funcionem e nos representem da melhor e mais democrática forma possível, com os custos que isso implica. 
Na verdade, o endividamento publico será bom sempre que devidamente controlado e justamente sustentado, pois permite investir na qualidade e igualdade de acesso aos serviços públicos e na melhoria da vida dos cidadãos em geral.  
Na verdade, a obsessão pelo défice é um erro, pois significa optar pelo atraso e pela falta de resposta em serviços essenciais para todos como são por exemplo os casos da saúde e da educação.
Em nota de rodapé deixo uma saudação particular aos socialistas que se rebelaram contra o governo do seu partido na República por repudiar as propostas do PCP e do BE de taxar os super-resultados dos grupos económicos especuladores ligados à energia, os quais alimentam a inflação e enriquecem aqueles que na guerra parecem termal disfarçado interesse. 
E uma crítica às infelizes declarações recentes do 1º Ministro de que a inflação é um mal “sem remédio”. 
Bastaria, por um lado, controlar preços de bens essenciais e, por outro, em vez de alimentar uma guerra, concentrar esforços para acabar com ela…
 

Mário Abrantes

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