Diário dos Açores

Polimedicação

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Conselhos de médico

1 – O uso, e em especial o abuso, de medicação tem as suas vantagens, mas também tem, e são muitas, desvantagens em virtude dos efeitos secundários dos medicamentos e muito em especial das suas interações uns com os outros. Alguns doentes chegam a tomar mais de 12 medicamentos diferentes, o que implica a toma de mais de 20 comprimidos por dia …!!! É como as galinhas a comer milho.
2 – A nossa sociedade evoluiu muito graças às descobertas científicas na área da química. A descoberta dos tratamentos com antibióticos possibilitaram uma evolução espetacular no tratamento das infeções.
3 - A descoberta da penicilina por Alexander Fleming em 1928 (ainda não tem 1 século) permitiu salvar milhares de vidas humanas. É curioso porque a primeira pessoa em Portugal a ser tratada com penicilina, em 1944, foi precisamente nos Açores a um tenente na Base das Lajes, que estava a cumprir o serviço militar e que teve um acidente grave que desenvolveu uma infeção grave.
4 – Um dos problemas da polimedicação é a interação que os medicamentos têm uns com os outros. Em alguns casos anulam os efeitos dos outros e noutras vezes podem até potenciar esse efeito. A potenciação do efeito dum medicamento pode ser benéfica, mas também pode ser muito perigosa e até pode causar a morte. Se um medicamento potencia o efeito hemorrágico e esse doente já está a tomar por exemplo derivados de varfarina a possibilidade de uma doença hemorrágica é muito elevada. Este medicamento em altas doses é usado no combate às pragas dos roedores.
5 – Quando um doente lê o “prospeto” (bula) do medicamento pode ficar assustado com a série de efeitos secundários e de interações que podem ocorrer. É bom estar atento aos eventuais efeitos secundários e a possíveis interações medicamentosas, mas também não é necessário entrar em pânico.
6 – Mas a nossa sociedade, com uma esperança média de vida de perto dos 80 anos em Portugal (ao que dizem só 77 nos Açores), sobrevive muito à custa da toma de medicamentos. As doenças mais comuns das pessoas idosas são: hipertensão arterial (e outras doenças cardiovasculares), dislipidemia, diabetes, artroses, osteoporose, Alzheimer, cataratas, depressão, neoplasias e déficit de audição. Para quase todas elas existem medicamentos de controle e ou alívio das queixas ou para prevenção de complicações.
7 – O “remédio” principal está na prevenção… Não fumar, fazer exercício ou atividade física, boa alimentação, manter o peso ideal, ter uma vida alegre, conviver com os familiares e amigos, não se meter em “complicações” (o “stress” é dos piores fatores de risco). Quem não fizer isto arrisca-se…!!!  Depois das doenças instaladas muitas vezes a “correção” completa já não é possível. A pessoa com obesidade, sedentarismo, fumadora, com colesterol alto, com artroses, com diabetes e com depressão como é que sai “disto”???  Por esta razão é que insisto que a prevenção deverá ser o principal foco dos governos, mas aquilo que assistimos é quase sempre nos investimentos para os Hospitais para os tratamentos de doenças …evitáveis com prevenção.

Nota 1 - Haja saúde. Haja saúde. Haja saúde.

 

* Médico fisiatra e especialista em Medicina Desportiva

António Raposo*

 

 

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