Diário dos Açores

Tempo d’Azáguas

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No Sul da Macaronésia - XII

Divagação XII

Não é por capricho.
A ilha revela-se aos poucos, ao seu ritmo – o ritmo d’Azáguas.
Numa manhã, descobre o seu flanco Sul, mas um denso cordão de nuvens esconde o caminho e a vista da falésia até ao Tarrafal.
A sua travessia, de Sul a Norte, pode ser feita no mais cerrado nevoeiro, numa viagem celeste; ou com um deslumbramento desmedido, a paisagem espreguiçando vales profundos em múltiplas direcções.
Repito – não é capricho, sei lá, de ilha vaidosa.
É um convite à descoberta, lenta e saborosa, de cada pedra, penhasco – dos próprios cordões de gotas de chuva.
Atravessar uma paisagem assim é um triplo êxtase: o da imaginação, que adivinha o que se esconde na névoa cerrada; o da beleza desta, que aprendemos a apreciar; e o do espanto, pelo que enfim a ilha, condescendente, revela.
O nosso horizonte não é só assombroso.
Está vivo, eternamente mutável.

Coisinhas, curiosidades XII

“d’Azáguas” refere-se à época das chuvas (das águas), que se iniciam em Agosto.
A chuva que “fecha” a época é a de Outubro.
Em Santo Antão diz-se que, se esta falhar, por mais que tenha chovido nos meses anteriores, o ano agrícola ficará comprometido.
Em Cabo Verde existem várias localidades chamadas de Tarrafal.
Este nome deriva de tarrafe, o nome aqui dado à árvore ou arbusto Tamarix senegalens.
Felizmente, na costa ocidental de Santo Antão, a pequena localidade de Tarrafal de Monte Trigo (por vezes simplesmente designada por Tarrafal) nunca conheceu muros nem prisões, apenas algum isolamento geográfico, atenuado recentemente pela nova estrada (ora alcatroada, ora de calçada de basalto).
A Estrada da Corda atravessa a ilha de Santo Antão, de Sul (Porto Novo) a Norte (Ribeira Grande).
Deve o seu nome à povoação que atravessa, antes de serpentear entre desfiladeiros, até ao mar.
Mas prefiro acreditar que esse nome vem das cordas que amarravam e sustinham os trabalhadores que, ao longo de mais de uma década (nos anos 60), e à vez, se dependuravam nos penedos para partir o basalto e construir a estrada que hoje nos deslumbra.

Um abraço,
Ana

por: Ana Roque de Oliveira *

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