Diário dos Açores

Vergonha alheia

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A Ministra da Justiça esteve 4 dias nos Açores e, surpreendentemente, não visitou a principal obra do seu ministério!
Percorreu tribunais, conservatórias e cadeias, mas “esqueceu-se” de ir à Mata das Feiticeiras para constatar como estão a decorrer as famosas obras da construção da nova cadeia de Ponta Delgada.
Obras, como quem diz, porque aquilo continua a ser um monte de bagacina, com o ministério da Justiça a gastar mais de 3 milhões de euros só a retirar um monte de cascalho para outro local, por teimosia escandalosa dos governos de António Costa, com o apoio dos seus camaradas locais, que também devem ter vergonha de ir visitar aquela feiticeirice, preferindo manter-se calados.
Toda a gente sabe como é que aquilo foi adjudicado, numa enorme trapalhada em que a anterior ministra se envolveu - certamente arrependida - por ordem superior de cá e de lá.
Quase todos os partidos mantiveram-se em silêncio perante tão manifesto e estratégico “esquecimento” da senhora ministra.
O único que esteve muito bem foi o Bloco de Esquerda, ao desafiar a ministra a visitar o local, recordando que a bagacina retirada da Mata das Feiticeiras já foi suficiente para preencher uma cratera de uma pedreira e ainda criar uma elevação de algumas dezenas de metros de altura, numa área com quase 10 mil metros quadrados, sendo que a obra ainda decorrerá até final de 2022.
Nota positiva, também, para o Presidente do Governo dos Açores, José Manuel Bolieiro, que teve a coragem de dizer nos olhos da ministra o que ela precisava de ouvir acerca da nova cadeia e das faltas do Estado português nesta Região.
O retrato do Estado na região resume-se a isto: um monte de pedregulhos, que não sabe tratar dos seus serviços, que deixa ao abandono as esquadras das polícias, os agentes dos tribunais e trata miseravelmente os reclusos.
Por menos do que isso uma geração inteira de açorianos sublevou-se.
Hoje, muitos curvam-se a Lisboa, à espera das sinecuras dos líderes e dos aparelhos centralistas que os amolecem.
Esta gente não deve dormir descansada.

 

Um Estado preguiçoso


Outra vergonha do Estado português abordada esta semana é o atraso escandaloso (mais um!) da adjudicação para instalação dos cabos submarinos.
É irritante a passividade do governo central sempre que se tratam de assuntos relativos às Regiões Autónomas.
Tem sido assim em tudo: na cadeia, nos tribunais, na transferência de verbas, nos radares meteorológicos, na Universidade e agora nos cabos submarinos.
Foi preciso uma empresa privada, como a Altice, vir esta semana aos Açores anunciar como se faz investimento bom e rápido numa região estratégica.
É bom que os açorianos vão assistindo ao triste espectáculo que é alguns deputados do PS elogiarem a (in)acção do governo central, para mais tarde julgarem o mandato dos que se curvam a Lisboa.
Se um dia, que ninguém deseja, formos confrontados com o caos nas comunicações devido ao fim de vida do actual cabo submarino, é preciso que fique bem claro quem serão os culpados.
O Estado português continua mandrião e é preciso sacudi-lo com a força telúrica das gentes insulares.
Têm a palavra os senhores deputados, com matéria mais do que suficiente para apresentarem votos de protesto e de repúdio no parlamento, como tanto gostam.
Convém saber quem está do lado dos Açores e quem continua a estender-se ao comprido perante os centralistas e anti-autonomistas.

Osvaldo Cabral
osvaldo.cabral@diariodosacores.pt

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