Diário dos Açores

Edmundo Venceslau: Futebolista emblemático do Angrense e do Desporto Açoriano

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Desportistas do meu tempo

Recordo-me perfeitamente, enquanto aluno do Liceu Nacional de Angra do Heroísmo e praticante desportivo juvenil no Sport Clube Angrense, de ver jogar o Edmundo quando acompanhava o meu pai aos jogos de futebol no campo municipal da cidade. No início da década de 60 o Edmundo, oriundo da escola de formação do clube, já era uma das principais referências da equipa encarnada.
 As suas principais capacidades técnicas eram reflexo da sua maneira dinâmica e, simultaneamente, descontraída de se movimentar pelo campo. Ágil e autoritário na antecipação, tecnicamente evoluído no jogo aéreo, impunha respeito e limpava com destreza a sua área defensiva. Não só era um excelente jogador, como também, um exemplo de desportivismo pelo comportamento correcto e respeitoso que mantinha com todos os intervenientes no jogo, qualidade que lhe permitiu desempenhar as funções de capitão da equipa durante muitos anos.
Entretanto, na época de 1960-61, Edmundo e companhia (Laureano, Aníbal, Canetas, Carlos Silva, Vilaverde, Gonçalves, Horácio, Pires, Miranda, Almeida e Morais), treinados pelo credenciado Manuel Lima, após se sagrarem campeões da Associação de Futebol de Angra do Heroísmo, também venceram o Campeonato Açoriano e, ainda, viríam a conquistar o título insular frente ao consagrado Marítimo da Madeira. Era a primeira vez que tal proeza acontecia na história do futebol açoriano e, como tal, o prestígio do Sport Club Angrense cresceu, de tal modo, que não havia nenhum adolescente das nove ilhas do arquipélago e da diáspora açoriana, nos USA e Canadá, que não conhecesse o Angrense e o nome dos seus jogadores.
Como cereja no topo do bolo, saiu no sorteio da eliminatória da Taça de Portugal, o Sport Lisboa e Benfica que integrava diversos jogadores internacionais como o José Águas, Mário Coluna, José Augusto, Cavém, Santana, Costa Pereira, Artur, Angelo, Neto e Cruz. Foi uma experiência inolvidável para este grupo de jogadores açorianos que os marcou para toda uma vida. Poucos anos depois, tive a oportunidade de jogar com alguns deles no Sport Club Angrense. Nas nossas conversas de balneário todos recordavam com um sorriso e muito orgulho, as peripécias vividas aquando dos encontros efectuados com o Sport Lisboa e Benfica.
Contudo, o serviço militar obrigatório (1961) veio interromper a carreira desportiva do Edmundo que, de seguida, foi mobilizado para Angola (Negage) onde esteve durante 3 anos. Em 1964, de volta à sua terra natal regressou ao clube da sua vida, o Sport Clube Angrense, onde fomos companheiros e, igualmente, integrantes de uma seleção da AFAH. Na época seguinte fui estudar para Lisboa e o Edmundo continuou a envergar a braçadeira de capitão da equipa encarnada tendo, pouco tempo depois (1967), sido novamente campeão açoriano na prova regional disputada na cidade da Horta. Uma vez mais, o sorteio da respectiva eliminatória da Taça de Portugal conduziu o Sport Club Angrense ao encontro do Benfica, então Campeão Europeu e com Eusébio no plantel. Como corolário da excelente época desportiva o Angrense realizou uma digressão ao Canadá onde defrontou algumas equipas locais e europeias, com boas prestações.
Terminada a sua carreira de jogador como atleta de referência resolveu, em 1987, enveredar pelo treino desportivo pelo que frequentou, com sucesso, o curso de treinadores organizado pela Federação Portuguesa de Futebol. Ao tempo, foi director do curso o conceituado professor Joseph Wilson e eu exercia funções de DREFD, na Secretaria Regional de Educação. No seu percurso como treinador o Edmundo dirigiu o Sport Clube Barreiro, o Marítimo, o Angrense e o Vilanovense, tendo dirigido a equipa do Porto Judeu numa digressão ao estado da California (USA).
O Edmundo Venceslau, para além de ter sido um excelente companheiro de equipa, era sempre o primeiro a apoiar os jogadores mais novos nas diferentes situações de treino e jogo. Como atleta foi um dos melhores jogadores da história do futebol açoriano e, ainda teve tempo e paciência, para transmitir às novas gerações de futebolistas os conhecimentos adquiridos ao longo de uma exitos a carreira desportiva e de diplomado com o curso de treinador federado. É mais uma personalidade notável da história do desporto açoriano esquecida pelas instituições responsáveis.

Eduardo Monteiro

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