Diário dos Açores

É óbvio!

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Em conversa entre amigos, um queixava-se que no apoio ao cliente que fazia diariamente as pessoas não o ajudavam a ajudá-las. Para poder desempenhar da melhor forma o seu trabalho, ele necessitava que as pessoas fornecessem várias informações, mas, segundo ele, elas limitavam-se a dizer “para ter um visto de trabalho num país estrangeiro, como posso fazer?”, e ficavam à espera de uma resposta redondinha e certinha sem lhe ser fornecido mais qualquer tipo de dado.
Compreendendo que se é uma situação recorrente por vezes nos cansamos de repetir aquilo que nos parece óbvio, acredito que um cidadão normal não faça ideia de que seja necessário adicionar mais informação àquela pergunta para ter uma resposta eficaz. Ou então, está à espera que depois de questionar o que necessita o funcionário daquela instituição, habilitado para aquele serviço, lhe saiba fazer as perguntas certas para poder fornecer a informação correta.
É recorrente ouvirmos conversas como:
- Mas já lhe disseste?
- Não é preciso dizer, é óbvio, não é?
Humm, não, nem sempre é.
Já teve este tipo de conversa?
Assumimos muitas vezes que não necessitamos de verbalizar o que estamos a pensar ou a sentir porque “é lógico”, “está-se mesmo a ver”.
E depois amuamos porque o outro “não me compreende”, ou “não percebe o que estou a sentir”.
Há que fazer um esforço para compreender que não é bem assim.
Somos todos diferentes. Não precisamos todos de dormir as mesmas horas, não gostamos todos de doces, não temos todos os olhos castanhos, não temos todos aptidões para números, e podíamos ficar aqui a escrever um jornal inteiro de diferenças que os seres humanos têm entre si. Então, porque esperaríamos que pensamos todos da mesma forma?
E não tendo todos o mesmo tipo de pensamento, temos que compreender que o outro não vai mesmo adivinhar o que nos está a passar pela cabeça.
Por isso, e se temos um maravilhoso mundo de palavras que servem para exprimir o que queremos, sentimos, pensamos, porque não usá-lo de forma simples, direta, eficaz, e já agora, cordial e educada?
Muitas relações, sejam amorosas, familiares, profissionais, terminam por falhas de comunicação.
E se houvesse uma “fada da comunicação” que pudesse evitar que isso acontecesse? Teria emprego garantido, é certo, e podia, com a sua varinha mágica, pôr as pessoas a verbalizar o que vai nas suas mentes.
Não havendo, faça você esse trabalho.
Expresse o que sente sobre a situação. Não assuma que o outro sabe o que está a sentir, mesmo que para si seja óbvio.
Diga de forma direta o que pretende, e use frases que ajudem o outro a compreender que aquilo para si é importante.
Se em vez de dizer “pois, acho que é óbvio que se tu não fizeste isso tive que ser eu a fazer”, experimente, antes do problema dizer “Podes, por favor, ajudar-me a fazer isto? Quando não fazes esse trabalho, eu sinto que tenho que ser eu a fazê-lo e isso faz com que fique assoberbado(a)”.
Se o seu interlocutor tiver boas intenções (e vamos acreditar que sim), o mais natural é que lhe peça desculpa e mude de atitude.
Se tal não acontecer, volte a ter uma conversa franca, e insista na forma como se sente. Focarmo-nos em sentimentos, falar abertamente antes de partirmos para os juízos de valor sobre atitudes alheias é uma ótima forma de começar a mudar a nossa comunicação interna que depois vai refletir-se na nossa comunicação externa, seja ela verbal ou não. Para além de que pode começar a contagiar quem está à sua volta e fazer com que as pessoas com quem mais lida comecem, também elas, a adotar uma comunicação mais assertiva.

Andreia M. Pereira* 

* Licenciada em Jornalismo e Comunicação, coach certificada, formadora em Comunicação e Desenvolvimento Pessoal

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