Ordem dos Médicos dos Açores diz que há falta de segurança nos cuidados médicos no HDES
Diário dos Açores

Ordem dos Médicos dos Açores diz que há falta de segurança nos cuidados médicos no HDES

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A responsável nos Açores da Ordem dos Médicos, Margarida Moura, denunciou a falta de condições de assistência aos doentes no Hospital de Ponta Delgada, nomeadamente na cirurgia geral, cuja Directora de serviço apresentou esta Quinta-feira a demissão.
“Há situações graves. É preciso que a população tenha conhecimento da falta de segurança nos cuidados médicos a prestar no serviço de urgência a partir de hoje, nomeadamente na ilha de São Miguel”, declarou Margarida Moura.
Margarida Moura convocou os jornalistas de Ponta Delgada para referir que se está perante uma “ilegalidade na construção das escalas no Hospital do Divino Espirito Santo”, uma vez que estas foram comunicadas às 19:00 de Quarta-feira e deveriam ter sido com cinco dias de antecedência, de acordo com a legislação em vigor.
A dirigente da Ordem referiu que “há escalas em diferentes serviços que não estão de acordo com as orientações da Ordem dos Médicos e que põem em perigo a qualidade e segurança da assistência aos doentes”, nomeadamente no caso da cirurgia geral, em que “é obrigatório estarem escalados pelo menos dois cirurgiões, por dia, e por turno, e só está um”, que “não opera sozinho, por razões de segurança”.
Margarida Moura referiu que o esforço que os médicos têm feito “infelizmente não tem sido reconhecido e acarinhando pelos políticos da região”, tendo estendido a observação à “maioria das gestões” dos hospitais açorianos.
A responsável da Ordem considerou que existe falta de “condições físicas, tecnológicas e humanas para que o serviço dos médicos seja prestado em qualidade e segurança”, salvaguardando do que “há um mau ambiente, desde sempre, no HDES, e desrespeito continuo e total pela hierarquia normal do hospital, nomeadamente os directores de serviço, sistematicamente ultrapassados”.
Denunciou ainda “pressão e retaliações”.
Sobre a desmarcação pelo Presidente do Governo dos Açores, José Manuel Bolieiro, da reunião que tinha previsto com a Ordem dos Médicos, referiu que este alegou que “os assuntos eram sindicais”, contrapondo que “há muito assuntos a tratar que dizem respeito à ética e deontologia, bem como a segurança dos doentes, que tem a ver com a Ordem”.
Maria Inês Leite, a responsável pela cirurgia geral do HDES, que esteve ao lado de Margarida Moura na conferência de imprensa, referiu que “um hospital que tenha uma urgência médico-cirúrgica, de ponta, como o HDES, que não tem hipótese de transferir doentes para outro hospital, a não ser por evacuação, tem que ter três elementos de presença física de urgência de cirurgia geral”.
Pode um destes “ser substituído por um interno da especialidade de quinto ou sexto ano”, explicou.
A médica referiu que “a partir de hoje está um cirurgião sozinho sem ter sequer um colega de prevenção a que possa recorrer para situações emergentes, nomeadamente para operar”.
Maria Inês Leite rejeitou que as escalas estejam asseguradas para o mês de Dezembro no HDES, como afirmou ter referido o presidente do Governo dos Açores, salvaguardando que José Manuel Bolieiro “não tinha conhecimento dessa situação”.
“Apresentei a minha demissão, hoje, porque não posso nem compactuar nem me responsabilizar por um atendimento e prestação de cuidados à população”, declarou, para salvaguardar que “em situação de calamidade os médicos não virarão as costas aos colegas, não ficando a população a descoberto”.

PS diz que assistimos ao caos

“É com muita preocupação que temos acompanhado os acontecimentos das últimas semanas no Serviço Regional de Saúde, onde a arrogância e teimosia do Vice-presidente do Governo, a ausência e incapacidade do Secretário Regional da Saúde e a falta de autoridade e capacidade de liderança do Presidente do Governo são directamente responsáveis pelo caos a que infelizmente estamos a assistir”, refere João Paulo Ávila, do Secretariado Regional do PS Açores, em reação aos acontecimentos recentes no Serviço Regional de Saúde.
Para o dirigente socialista, “o desrespeito demonstrado pela classe médica, a inacção e incapacidade para resolver atempadamente a situação e a forma como isso põe em causa a estabilidade, confiança e segurança dos cidadãos no acesso aos cuidados de saúde são inaceitáveis e, mais uma vez, evidenciam que os egos e lutas partidárias dentro do Governo, põem em causa a estabilidade que este sector exige”.
“É por isso que exigimos respeito pelos utentes.”
“Respeito por aqueles que, sem terem qualquer culpa por esta situação inaceitável, são confrontados com os resultados da incapacidade do Governo Regional que leva a uma situação caótica no Serviço Regional de Saúde, com especial evidência no Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada, onde cada vez mais é evidente que o actual Conselho de Administração é parte do problema e não parte da solução”, alerta João Paulo Ávila.
“Respeito pelos utentes que, antes de mais, passa por respostas claras e fundamentadas sobre se, no Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada, há ou não escalas de serviço completas e por turno, quem as assegura e qual o papel dos assim chamados tarefeiros neste processo, entre outras questões que têm a ver com a segurança dos açorianos. A resposta clara e cabal a essas questões é o primeiro sinal de respeito que está a faltar para com o SRS, os seus utentes e os seus profissionais.”
Segundo o membro do Secretariado Regional, “as várias demissões que verificamos nos últimos dias são o culminar de vários alertas, feitos há vários meses, sem que isso merecesse uma ação rápida e eficaz do Governo Regional para garantir estabilidade, confiança e segurança aos cidadãos que acorrem aos serviços de saúde naquele hospital.”
“Novamente, as lutas partidárias internas no Governo estão a comprometer o presente e o futuro dos Açores, onde o que mais interessa aos membros do Governo é a forma como sobrepõem a sua vontade e autoridade aos colegas de Governo, sejam ou não de outro partido, e não a qualidade de vida dos açorianos e o futuro dos Açores”, lamenta João Paulo Ávila.

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