Dados do INE apontam para a manutenção do valor do Índice de bem-estar
Diário dos Açores

Dados do INE apontam para a manutenção do valor do Índice de bem-estar

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O Instituto Nacional de estatística, divulgou o estudo sobre o Índice de Bem-estar (IBE) que é um estudo estatístico de periodicidade anual e cujo âmbito geográfico é o país. Neste estudo é feita uma analise que vai desde 2004 a 2021.
As variáveis que integram a construção do IBE provêm de procedimentos administrativos e de operações estatísticas desenvolvidas no contexto do Sistema Estatístico Nacional, do Sistema Estatístico Europeu, do Banco Mundial e outros.
Do ponto de vista concetual, as Condições Materiais de Vida das famílias e a Qualidade de Vida foram identificadas como perspetivas essenciais na avaliação da evolução do bem-estar.
Os dados preliminares de 2021 apontam para a manutenção do valor do Índice de Bem-estar (IBE) do ano anterior.
O Índice de Bem-estar (IBE) da população portuguesa evoluiu positivamente entre 2004 e 2020. Estima-se que o valor de 2020 se tenha mantido em 2021. O IBE reflete a evolução do bem-estar da população recorrendo a dez índices sintéticos.
Estes índices traduzem duas perspetivas de análise: Condições Materiais de Vida e Qualidade de Vida. Entre 2009 e 2013 estes dois índices evoluíram claramente em sentidos opostos, com as Condições Materiais de Vida a evidenciarem uma tendência decrescente e a Qualidade de Vida uma tendência crescente. Entre 2013 e 2016 apresentaram uma evolução no mesmo sentido. Após esse ano, a Qualidade de Vida manteve uma tendência decrescente suave e as Condições Materiais de Vida cresceram até 2019 e diminuiram ligeiramente a partir desse ano.
Considerando apenas o período posterior a 2013, nove dos dez domínios que integram o IBE apresentaram uma evolução tendencialmente positiva. Os três domínios pertencentes às Condições Materiais de Vida foram os que apresentaram uma evolução mais favorável, apesar da redução verificada em 2020 como resultado da pandemia COVID-19.
Entre 2004 e 2020, o IBE passou de 20,9 a 45,8. Esta evolução positiva resulta sobretudo dos progressos verificados nas Condições Materiais de Vida, embora a evolução da Qualidade de Vida também tenha sido globalmente positiva. As duas perspetivas de análise do bem-estar – traduzidas pelos índices sintéticos de Condições Materiais de Vida e de Qualidade de Vida – apresentaram, ainda assim, comportamentos distintos ao longo do tempo. O índice de Qualidade de Vida foi sempre superior ao das Condições Materiais de Vida, com exceção do período de 2008 a 2009 e do ano de 2019.
O índice da perspetiva da Qualidade de Vida apresentou uma tendência positiva até 2016, tendo mantido a partir desse ano valores aproximadamente constantes. O índice que explica a evolução das Condições Materiais de Vida registou uma evolução negativa no período 2010-2013, atingindo um valor mínimo em 2013. A partir desse ano cresceu até 2019, tendo sofrido um decréscimo em 2020. Os resultados obtidos advêm de evoluções diferenciadas no tempo, dos domínios que alicerçam as duas perspetivas consideradas.
Na evolução das Condições Materiais de Vida observam-se quatro períodos de tempo distintos: entre 2004 e 2009, o índice apresenta uma evolução positiva, à custa do contributo da evolução do domínio do Bem-estar económico, apesar dos decréscimos no mesmo período dos índices dos domínios do Emprego e da Vulnerabilidade económica; um segundo período, de 2010 a 2013, em que o índice apresenta uma evolução negativa, em resultado dos decréscimos muito acentuados dos índices dos domínios Emprego e Vulnerabilidade económica; uma evolução positiva a partir de 2014, em resultado da evolução também positiva dos índices dos três domínios; e finalmente uma inflexão em 2019, resultante do comportamento negativo dos três domínios.
O índice de Bem-estar económico apresenta uma evolução positiva aproximadamente linear, contrariamente ao que sucede aos dois restantes domínios das Condições Materiais de Vida. Com efeito, cresceu praticamente de forma contínua desde 2004 (apenas com uma ligeira exceção no período 2011-2012 e em 2020), sendo o domínio que no período em análise apresentou um aumento mais pronunciado.
Os índices dos domínios do Emprego e da Vulnerabilidade económica apresentaram comportamentos muito semelhantes em todo o período: um decréscimo acentuado até 2013, um acréscimo desde esse ano até 2019 e um ligeiro decréscimo em seguida. O crescimento até 2016 do índice da Qualidade de Vida é explicado pela evolução positiva dos índices de domínio da Segurança pessoal, da Educação, do Ambiente e da Saúde.
A estagnação verificada após 2016 pode ser atribuída ao decréscimo do índice do domínio Balanço vida-trabalho, à estagnação do índice do Ambiente, verificada a partir de 2013 e à inflexão em sentido negativo, verificada no domínio da Participação cívica, a partir de 2017.
Por último, a partir de 2012, os domínios do Ambiente e da Segurança pessoal são os que apresentamos valores mais elevados do índice, refletindo assim uma posição relevante de Portugal nestas áreas, em termos internacionais. Em sentido inverso, salientam-se os baixos valores assumidos pelo índice do domínio da Participação cívica e governação.

Bem-estar económico

O domínio Bem-estar económico apresentou um crescimento significativo até 2010, inverteu essa tendência até 2012 e iniciou uma recuperação desde então, só interrompida em 2019, ano no qual se verificou um ligeiro decréscimo, estimando-se uma recuperação em 2021. Salienta-se, no comportamento deste índice, a evolução favorável dos indicadores de desigualdade e concentração e da despesa de consumo final das famílias, que são os que tiveram o comportamento mais favorável no período.
Os indicadores relativos ao património e a remuneração mensal líquida foram, não só os que tiveram a evolução mais contida, como também os que apresentaram durante o período valores mais baixos.
Embora o domínio Bem-estar económico e os seus respetivos indicadores tenham apresentado uma evolução genericamente positiva, partem em 2004 de valores muito baixos e atingem, no final do período, valores que se situam, em média, na proximidade de 30 (numa escala de 0 a 100), o que é revelador da posição de Portugal no que respeita a este domínio, em relação aos valores mais elevados do conjunto de países que funciona como referência em termos de normalização de indicadores.

Vulnerabilidade económica

O domínio Vulnerabilidade económica ocupa o terceiro lugar dos que apresentam a evolução mais desfavorável ao longo do período em estudo, refletindo os valores francamente baixos dos indicadores da pobreza.
A generalidade dos indicadores decresceu de forma menos pronunciada até 2010 e de forma abrupta nos três anos seguintes. No entanto, registaram-se evoluções positivas a partir de 2014, devidas sobretudo à redução da taxa de privação material, da taxa de intensidade de pobreza e da intensidade laboral muito reduzida.
A partir desse ano até 2019, ano em que se iniciaram novos decréscimos, todos os indicadores deste domínio apresentaram uma evolução favorável.

Emprego

O domínio Emprego é a componente do bem-estar com evolução mais desfavorável, quando se considera todo o período 2004-2021.
No entanto, se se considerar apenas o período posterior a 2012, é o domínio que apresenta a variação positiva mais pronunciada.
Para esta evolução, quer na fase descendente até 2013, quer na fase ascendente a partir desse ano, contribuiram sobretudo os indicadores das taxas de desemprego da população ativa, jovem e com nível de educação superior.

Qualidade de Vida Saúde

Estima-se que o domínio da Saúde, ocupe o terceiro lugar relativamente aos sete domínios que constituem a perspetiva da Qualidade de Vida, em termos de evolução favorável, no período 2004-2019.
Esta evolução foi muito acentuada até 2006, mais suave desse ano até 2013, decresceu em 2014 (devido sobretudo à evolução fortemente negativa da população que refere limitação na realização de atividades habituais devido a um problema de saúde prolongado e da esperança de vida em saúde) e voltou a crescer a partir daí. A esperança de vida à nascença, a avaliação positiva dos serviços de saúde, a mortalidade por doenças do aparelho circulatório e a mortalidade infantil foram os indicadores que apresentaram uma evolução mais favorável do que a do índice de domínio.
Noutra perspetiva, distinta da análise da evolução dos indicadores, a qual reflete o posicionamento de Portugal face aos países tomados como referência, refira-se o valor elevado e, portanto, positivo em termos de bem-estar, uma vez que estes índices têm polaridade negativa, dos índices da mortalidade por tumores malignos e por doenças do aparelho circulatório. Na posição oposta, observam-se os valores baixos do índice de teor subjetivo relativo à população que avalia o seu estado de saúde como bom ou muito bom.

Balanço vida-trabalho

A capacidade de conciliação entre o tempo dedicado ao trabalho e as outras vertentes da vida pessoal, como a família, os amigos ou o lazer em geral, é um importante fator de caraterização do bem-estar.
A conciliação vida-trabalho apresentou uma evolução positiva até 2010. A partir deste ano tem vindo a diminuir. Esta diminuição resulta do movimento de sentido oposto dos seguintes indicadores: a evolução desfavorável do índice de conciliação do trabalho com as responsabilidades familiares, que não foi suficientemente compensada pela melhoria, a partir de 2014, do desempenho do indicador relativo aos trabalhadores que trabalham mais de 49 horas por semana.

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