No passado dia 12 de maio, assisti a um webinar organizado pela Sociedade Europeia de Estudos de Stress Traumático (ESTSS), intitulado “Advancement of internet-based interventions for trauma and stress-related disorders”. Abordou-se a necessidade de novas soluções na prestação de cuidados de saúde mental em psicotraumatologia e foram apresentados estudos que estão a decorrer em vários países sobre o desenvolvimento de intervenções que fazem usoda Internet para as Perturbações Relacionadas com Trauma.
É com satisfação que assistimos à procura de novas respostas terapêuticas nesta área, mas não nos podemos esquecer que, embora a maioria da nossa população já tenha sido sujeita a pelo menos uma situação potencialmente traumática, ainda não temos no sistema público, uma rede de centros especificamente orientados para a intervenção em trauma.
Apesar da maior visibilidade que a comunicação social tem dado a acontecimentos que se podem revelar traumáticos, lembremo-nos dos grandes incêndios florestais no continente, ou da crise sísmica na ilha de S. Jorge, sem esquecer o papel da pandemia, a crise de refugiados da guerra na Ucrânia, ou os abusos sexuais na infância, não assistimos a qualquer esforço dos poderes públicos, na criação de serviços especializados em trauma e psicotraumatologia.
Especialmente no caso dos abusos sexuais,é crucial que a intervenção seja feita por técnicos especializados em terapias validadas cientificamente para o trauma. Não podemos continuar a oferecer a quem precisa de serviços especializados, respostas sem diferenciação.
Também é importante não esquecer que a exposição e discussão mediática das situações de abuso e trauma, como as que ocorreram no seio da igreja, acarreta muito sofrimento para as vítimas e respetivas famílias, especialmente para as que nunca conseguiram aceder às respostas adequadas.
Se o nosso país possuí técnicos com formação adequada em intervenção terapêutica no âmbito do trauma psicológico, o que é que falta para que a população que depende dos serviços públicos, possa aceder aos seus cuidados?
Fique bem, pela sua saúde e a de todos os Açorianos.
Um conselho da Direção Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
César Duarte Soares *
*Especialista em Psicologia da Educação e em Psicologia Clínica e da Saúde