Diário dos Açores

Dos benefícios do tabaco para a Autonomia

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Coisa muito rara venho hoje concordar com as medidas para o setor do tabaco do governo PS da República, que acho que podiam ser mais profundas, no bom caminho de erradicação do nosso maior problema de saúde pública.
Não há família em Portugal que não tenha mortos agarrados ao tabaco.
Na minha longínqua infância até havia sugestões de que fazia bem e em alguns países era recomendado às crianças.
A nossa turma do 1º Ciclo, nos anos 60, teve um Professor com letra grande que depois de uma pequena mas violenta palestra sobre o tabaco na aula nos levou ao Hospital de Santo António (no Porto), onde um cirurgião, depois de alguns conselhos habilitados, colocou sobre a mesa dois pulmões, um normal e um negro de cancro e tabaco.
Foi remédio santo: não me lembro de fumadores nos colegas, mas hoje, se calhar, o nosso professor era “Wokado”, censurado, cancelado e afastado.
Nos Açores, como muito bem e corajosamente denunciou o meu caro amigo Dr. Rui Sanbento, a situação é pior que a média do país, podendo até ser das piores do mundo.
O tabaco é um cancro da nossa sociedade, uma disfuncionalidade permanente e estimulada pela ausência, por parte da Autonomia, de um plano de erradicação ou sequer de redução.
É um cancro que provoca muitos cancros reais, uma infinidade de tragédias familiares e de partidas prematuras desta vida, de pessoas em idade de continuarem a acompanhar as suas famílias e uma redução permanente da capacidade do sistema Regional de Saúde em se concentrar na Saúde dos Açorianos, que bem precisariam disso.
É uma permanente intrusão e agressão na vida dos que não fumam, das crianças habituadas desde pequenas a verem esse hábito nojento como algo de quase normal e, portanto, facilmente recrutadas para essa “normalidade “ perversa, e para uma vida de sujeição e de pagamento à Autonomia e às suas fábricas de tabaco.
Quem tiver dúvidas disso basta rever o Açoriano Oriental de 31 de Março passado, com parangonas de 1ª página, ”Sector do tabaco vale 1,33% do PIB dos Açores e Madeira”, 123,9 milhões de euros de vendas e 15,3 de VAB.
Depois, em jeito de cereja no topo do bolo, apresentam 1.194 milhões de euros de impostos entregues ao Estado (a nível nacional espero).
Vejam se conseguem dividir isto pelo número de mortos, de cancros e muitas outras doenças e de famílias destruídas para verem se vale a pena, se continua a valer a pena ao fim de 40 anos de Autonomia.
E são esses os benefícios para a Autonomia, da estimulação do vício do consumo de tabaco, que já nem é colhido em larga escala nos nossos campos como antigamente.
Os tais 1.194 milhões de impostos deveriam ser totalmente destinados, todos os anos, ao bem maior para todos nós, da redução progressiva (mas rápida) destas dependências, através de proibições cada vez maiores, preços significativos altos quanto seja necessário, ajudas aos que precisarem de ajuda para parar de consumir essa droga e, claro, com a proteção dos trabalhadores afetados pelo fim desta indústria de morte.
Não me parece que vá acontecer nos Açores e menos com este Governo, em que os porta vozes parecem ser muitas vezes ser os próprios das CCI de S. Miguel e Terceira que têm demasiado envolvimento até pessoal neste caso do tabaco e agora substituem o Governo com pareceres abalizados em assuntos como onde devem amarrar os cabos de comunicações, onde fazer novos portos, apesar de os existentes terem um aproveitamento claramente deficiente, e imbecilidades de engenharia umas atrás das outras, agora até falam de cabos submarinos de energia.
Se calhar é melhor acabar com a Ordem dos Engenheiros por já não ser necessária face a estes especialistas.
Tudo isto porque um passarinho me disse que o Governo Regional dos Açores do PSD e seus parceiros não tencionava seguir as novas orientações nacionais para o tabaco, não só por serem do PS, mas por lhe mexerem na sua firme crença de que o tabaco é um pilar do desenvolvimento dos Açores, como as vacas ou o turismo de massas, que vão sustentando e implementando.

João Paim Vieira *

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