Diário dos Açores

Manhosa Democracia

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Peixe do meu quintal

As eleições nos vários territórios ibéricos, sob o domínio secular de Castela e a que se convencionou astutamente chamar Espanha, trouxeram à luz da realidade incomoda para Madrid, toda a hipocrisia envolta num velho manto malcheiroso e mofento, a que os castelhanos teimam em chamar-lhe democracia.
Já tenho escrito (e muitos outros igualmente o fazem) que a Península Ibérica é uma manta de retalhos. Vários países continuam subjugados pelas forças centralistas de Castela. Portugal foi o único que conseguiu safar-se do jugo castelhano graças às sucessivas intentonas da Catalunha que em 1640 se levantaram para nova tentativa de libertação. Castela teve de enviar, de urgência, o grosso das forças militares estacionadas na ocupação de Portugal. Ficando Lisboa desprovida de defesa castelhana, D. João IV aproveitou a fraca resistência e conseguiu libertar Portugal.
Hipocritamente, os políticos portugueses não falam muito desta realidade histórica, em troca de um bom relacionamento com Castela. Mas o facto é que muito deveríamos agradecer aos nossos patrícios catalães pela liberdade e independência portuguesa que ainda hoje desfrutamos.
Mas agora, com as eleições castelhanas em toda a Hispânia e com resultados insuficientes dos grandes partidos políticos para formarem governo de maioria, o partido socialista pensa aliar-se com os independentistas que foram detidos por causa do referendo de 2017 para a independência da Catalunha. O mesmo catalão, Carles Puigdemont, que teve de fugir na bagageira de um carro para não ser preso pelos dirigentes de Madrid, é agora ‘procurado’ pelo partido socialista operário espanhol de Pedro Sánchez para poder obter o número suficiente de deputados e assim formar o próximo governo. Ironia das ironias.
Claro que Puigdemont exige imunidade jurídica pelos crimes de que é acusado, por ter querido dar a independência à Catalunha, a seguir ao referendo de 2017, realizado à revelia da constituição espanhola e com a brutal perseguição policial ordenada por Madrid durante o ato referendário de 2017.
A tudo isto o mundo democrático assobiou para o lado, fingindo que nada via.
Num interessante artigo publicado no “Diário de Notícias” intitulado “O regresso da base das Lages”, pode ler-se, entre outras coisas:
“Uma nova realidade estratégica (e tecnológica), que envolve EUA, China e Rússia numa disputa pelo controlo do espaço geoestratégico dos Açores e do Atlântico em geral, reacende no pensamento militar norte-americano um debate sobre a importância da Base das Lajes enquanto ativo “essencial”. Depois de um downsizing (2015) que nunca foi bem aceite pelos militares, a base é agora equacionada como principal infraestrutura dos EUA na Europa num horizonte até 2050… A discussão pública à volta da importância da Base das Lajes para os EUA, enquanto potência que domina e quer continuar a dominar o Atlântico, está ativa nos anos mais recentes e com particular incidência na atualidade, por iniciativa de militares norte-americanos e da própria comunicação social militar. A capacidade demonstrada pela Rússia para invadir a Ucrânia e para entrar com submarinos do espaço do Atlântico Norte parece ter despertado o pensamento estratégico norte-americano para a necessidade de precaver os meios, o que leva Hardeman a afirmar que as duas bases até há poucos dias sob o seu comando, além de serem plataformas estratégicas de projeção de poder, tornam possível aos bombardeiros e caças permanecerem fora da área de ameaça russa, mas suficientemente perto para apoiarem a iniciativa de dissuasão europeia e a operação no Médio Oriente. Na prática, esta visão aproxima a Base das Lajes de uma base de ataque, com bombardeiros e caças partindo de uma posição segura e certamente apoiados por reabastecedores. Hardeman avisa que a China continua a expandir-se para a África e para a região do Atlântico, enquanto a Rússia se assume como “uma ameaça desestabilizadora”. Está assim ultrapassado o discurso de desvalorização das capacidades da Rússia e de remissão da China para uma potência regional, admitindo-se que os dois poderes convirjam com os EUA numa disputa estratégica também no Atlântico.”
Para um bom entendedor, meia palavra basta…

José Soares *
 
jose.soares@peixedomeuquintal.com

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