Diário dos Açores

Um Historiador Português na Universidade de São Paulo

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Opinião

Em 1964 , fugindo da perseguição salazarista, um historiador português resolve tomar o rumo do Brasil. Seu nome? Joaquim Barradas de Carvalho. Onde vai se abrigar e exercer o Ofício de Mestre? Na Universidade de São Paulo ( USP ), onde fica até 1969. Quem intercede por ele? Eurípedes Simões de Paula. Na USP prova sua vocação de professor trabalhando no campo da História da Civilização Ibérica e História da Cultura Portuguesa Homem respeitoso, para quem com ele conviveu, seja como alunos(as) ou como pares acadêmicos, buscava tratar com cordialmente até com os discordantes de seu pensamento ideológico. 
É descrito como “ uma das personalidades portuguesas mais generosas, abertas, simples e firmes do século XX”. Nasceu em Lisboa em 1929 e faleceu em 1980. Por ser membro da Resistência antifascista foi perseguido, teve negada sua nomeação como responsável pelo curso de Letras da Universidade do Porto, ainda que tivesse sua licenciatura em História e Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. 
Um intelectual que não separou sua formação acadêmica do lugar de cidadão contrário ao regime salazarista. Suas ações na sociedade e seu pensamento resultou nos muitos anos que viveu como exilado. De fato todo o seu interesse, como pesquisador, sobre “ que país é Portugal” , “como se modifica socialmente”, “como e por que se dá as conquistas do além-mar”, ocorre fora  da universidade portuguesa. Refugiado na França, doutora-se em Estudos Ibéricos pela Sorbonne – Universidade de Paris e, em seguida, continuando sua minuciosa pesquisa sobre Portugal é diplomado pela Escola de Altos Estudos da Sorbonne. Busca retorno à Portugal, todavia sua permanente militância o torna alguém constantemente perseguido. Volta à França, não se sente seguro e refugia-se no Brasil, fazendo parte do corpo docente da USP. Nela fica de 1961 até 1969, quando o Brasil , também, se torna um país nada acolhedor. Resolve retornar à França. Só retorna à Portugal em 1974. 
Joaquim Barradas é, para mim, um “ intelectual nômade” que não separa o Ofício de Historiador do lugar de Cidadão atuante como militante em luta contra o arbítrio . Raro, nos nossos dias presentes; figura “incomoda” para muitos; intelectual admirado por muitos; descreve-se: “ Não me sinto, nem sou, proprietário de nenhuma época, de nenhum campo de pesquisas. Estou apenas interessado na resolução dos problemas que se me põem”. 

Adir Luz Almeida*

*Dra. em História da Educação e Historiografia - Universidade 
de São Paulo.
Professora Adjunta da Universidade do Rio de Janeiro
 

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