Diário dos Açores

O sucesso do 38º colóquio da lusofonia de 4 a 8 outubro 2023

Previous Article “O silêncio dos inocentes”
Next Article Um Historiador Português na Universidade de São Paulo

Opinião

Com o alto patrocínio da CM da Ribeira Grande, organização AICL, Mecenato da EDA Renováveis e apoio da Direção Regional das Comunidades, o Arquipélago, Centro de Artes Contemporâneas da Ribeira Grande recebeu o 38º colóquio da lusofonia. A comitiva ficou alojada no Hotel Verde Mar cujo pessoal, sua cortesia e profissionalismo foram salientadas pelos que lá ficaram hospedados. As refeições no Restaurante O Esgalha. O horário foi cumprido escrupulosamente, ao longo dos quatro dias, com a colaboração dos inscritos e dos 32 oradores quer presenciais quer os que participaram por teleconferência. A assistência sempre com mais de duas dezenas de pessoas, em vários momentos teve a sala cheia, com uma primorosa assistência técnica de 5 funcionários do CAC, Arquipélago, liderados por Marco D S Machado e Dalila Couto.

    Lamenta-se a ausência de toda a comunicação social na sessão de abertura. A RTP-Açores surgiria na sessão da tarde, a lusa escusou-se a mandar alguém ao contrário de anos anteriores em que normalmente divulgava a nível nacional o nosso colóquio. A Rádio Atlântida fizera uma reportagem dia 3 bem como o programa AÇORES HOJE da RTP-Açores dia 2 outubro. Outros jornais, como vem sendo costume, ignoraram o evento, que recorde-se existe há 21 anos sendo apenas superado em continuidade e longevidade pelo CORRENTES D’ESCRITA na Póvoa de Varzim. Claro que a comunicação social tinha assuntos mais importantes a revelar como a cor do fato do senhor Goucha no casamento real…, os palpites para os jogos de futebol no fim de semana, a empresa que fez bordados para o alegado casamento real e mais ainda, infanta Maria Francisca fala sobre o pedido de casamento, depois outros noticiavam o menu real, a magnânima abertura ao público com festa popular no casamento real, em plena celebração dos 113 anos da data de 5 de outubro de 1910 e da república laica.

Tivemos alocuções na SESSÃO DE ABERTURA, do Presidente da AICL, do Diretor do Arquipélago, Dr João Mourão, do líder parlamentar do PSD, Dr Bruto da Costa em representação da ALRA, do Dr José Andrade, Diretor Regional das Comunidades em representação do Presidente do Governo Regional e do Presidente da Autarquia, Dr Alexandre Gaudêncio, com a presença dos patronos Eduíno de Jesus, decano dos escritores açorianos, Professor Onésimo T de Almeida além de Urbano Bettencourt e J Carlos Teixeira. Houve uma sessão de poesia de autor por Aníbal Pires e a primeira sessão da Diáspora, com José Carlos Teixeira e José Andrade. Na sessão da tarde Diana Zimbron moderou Alda Batista do Tribunal de Contas Europeu e o cabo-verdiano da Universidade Nova de Lisboa, Hilarino da Luz em teleconferência desde Sevilha. Seguiu-se o Grupo Palavras Sentidas da Universidade Sénior a declamar com mestria poesia do Crónica do Quotidiano Inútil de Chrys Chrystello, 50 anos de vida literária, e um recital de piano da maestrina e pianista residente Ana Paula Andrade. Na última sessão (videoconferência), Nelson Ponta Garça apresentou o documentário The Portuguese in Hawaii. Presente uma descendente de açorianos que emigraram para o Havai e deu a conhecer em breves palavras o seu contributo.
Dia 6, o artista plástico Rui Barata Paiva tinha uma oficina de trabalho (workshop) de pintura a aguarela com 9 alunos da Esc. Secundária da Ribeira Grande que se prolongaria por toda a manhã. Na mesma escola, estavam os autores Aníbal Pires, Diogo Ourique, Jorge Arrimar, Nuno Costa Santos e Vasco M Rosa além de Onésimo T Almeida. Simultaneamente, na EBI da Maia, Anabela Freitas (Mimoso), Chrys Chrystello, Diana Zimbron, Francisco Madruga, Helena Chrystello e Natividade Ribeiro numa sessão com professores e alunos. As escolas ofereceram almoço aos participantes. De tarde houve passeio cultural.
Dia 7 Francisco Madruga moderava Anabela Freitas “Teófilo Braga e a literatura popular”, Álamo Oliveira, “Para um retrato do intelectual João Afonso”, e em videoconferência José Rebêlo sobre o seu avô, pintor Domingos Rebêlo. A derradeira sessão da manhã era um painel sobre Macau com Rui Paiva (“ Lusofonias: África, Europa e Ásia nas artes e na escrita”, Raul Gaião “ lingu di Macau, o patuá” e Jorge Arrimar apresentou “Calçada das Verdades” de Natividade Ribeiro. Num curto intervalo musical Ana Paula Andrade e uma aluna do Conservatório de Ponta Delgada interpretaram temas do cancioneiro Açoriano, seguindo-se pela primeira vez uma curta demonstração de duas peças em patuá pelo Grupo Doci Papiaçám di Macau, terminando com Raul Gaião a declamar um poema em crioulo macaense.
A sessão da tarde iniciou-se com a homenagem ao editor e livreiro Francisco F. Madruga, tendo-se visionado um curto vídeo da sua terra natal (Mogadouro), o seu percurso nos colóquios após 2009 e capas de algumas obras que publicou de autores açorianos, terminando com uma bem merecida elegia proferida por Vasco Pereira da Costa que se congratulou por ter apadrinhado o nascimento do Arquipélago, Centro de Artes Contemporâneas e fez uma digressão pela atividade de Madruga e a sua amizade. Ao homenageado, a AICL entregou uma placa alusiva à Homenagem. Seguiram-se apresentações literárias moderadas por Urbano Bettencourt em que Aníbal Pires apresentou a “Nova Antologia de Autores Açorianos” e Maria João Ruivo apresentou a novel obra “9 poemas, 9 línguas” ambas de Helena Chrystello, com a presença do editor, Ernesto Rezendes. Logo de seguida, Chrys Chrystello fez a apresentação da Génese de Crónica do Quotidiano Inútil, 50 anos de vida literária, com a declamação de alguns poemas e algumas versões públicas do seu mais conhecido poema “Maria Nobody” musicado por Ana Paula Andrade e também por Pedro Teixeira noutro registo diferente. Anabela Freitas (Mimoso) e Diana Zimbron fizeram a exegese das obras CHRÓNICAÇORES (volume 5 “Liames e epifanias autobiográficas 1949-2005” e volume 6 “Alumbramento, crónica do éden, 2005-2021”). A última sessão do dia, por teleconferência era moderada por José Andrade e contava com a participação de José Luís Jácome, um bem-sucedido empresário radicado em Montreal no Canadá a narrar com imagens da época, a sua experiência pessoal, Eduardo Bettencourt Pinto na Colúmbia Britânica fez um digresso por Ernest Hemingway, finalizando Susana L M Antunes da Universidade de Wisconsin-Milwaukee com uma interessante análise de “Um punhado de areia nas mãos” da Maria João Ruivo.
No derradeiro dia de comunicações Francisco Madruga moderou Mário Moura “Primórdios da imprensa no Concelho”, seguido da jornalista da RTP, Vera Santos a “A voz da alma ou rutura do real”, Conceição Mendonça apresentou o livro “Que lenço cobriria a dor?” de Natividade Ribeiro, e Jorge Arrimar “Angola e Açores na memória e na escrita”. A última sessão da manhã, com sala cheia, moderada por Onésimo T de Almeida, começou com a poesia de Álamo Oliveira dita pelo próprio e pelo Grupo Palavras Sentidas do livro “Versos de todas as luas”, a que se seguiu Chrys Chrystello apresentando um amigo de Macau há mais de 40 anos, Rui Barata Paiva, e terminando com o Dr João Mendes Coelho a apresentar “Cuéle, o pássaro troçador” de Jorge Arrimar.
Da parte da tarde Urbano Bettencourt moderou a sessão da Homenagem no Feminino, a Carolina Cordeiro (apresentada por Miguel Lopes), Helena Chrystello (apresentada por Aníbal Pires) e Maria João Ruivo (apresentada por Onésimo T Almeida). Foi-lhes ofertada uma pequena lembrança como homenageadas do ano.
Seguiu-se o painel especial com humor sob o tema “Escritoterapia, lamentação de três guionistas sobre as condições da indústria” em que se falou e amplamente debateu a inteligência artificial entre outros problemas.
A sessão final moderada por Álamo Oliveira juntava Vasco Medeiros Rosa “É preciso romper o amanhã. Madalena Férin revisitada” com declamação por Helena Barros da autarquia de Vila do Porto, (e a presença de Marta Guerreiro, ex-Secretária Regional da Energia, Ambiente e Turismo, no anterior governo regional) e terminava com Urbano Bettencourt “A moldura histórica de A Escrava Açoriana de Pedro Almeida Maia”.
Resumidamente este colóquio foi um sucesso que se ficou a dever à variedade de temas e de oradores, debates bem participativos, terminando com mais de 30 pessoas na audiência na sessão final, o que é notável, sempre com a sala bem composta de gente que ia variando ao longo das sessões, com participação local de pessoas não-inscritas como foi o caso de representantes da EBI Maia e da Escola Secundária da Ribeira Grande.

Chrys Chrystello*

*Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713
 

Share

Print

Theme picker