Diário dos Açores

O Sino do Papa

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Peixe do meu quintal

«uma mudança de crescimento e em favor da dignidade das pessoas» (Francisco)

Francisco inaugurou a 4 de outubro a primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’; uma segunda etapa vai decorrer em outubro de 2024.
“Há alguma dificuldade em acolher todos de igual forma e em aceitar a diversidade no seio da Igreja (casais em segunda união, pessoas com atração pelo mesmo sexo ou em uniões homossexuais) em valorizar a fragilidade, nomeadamente das pessoas com deficiência, e em compreender o que se entende por ‘acolhimento’”, pode ler-se na documentação apresentada.
Segundo as conclusões plasmadas nesta síntese, “…há, ainda, tensões diversas em temas ditos fraturantes, tais como: o acesso das mulheres ao sacramento da ordem; a ordenação de homens casados; a identidade sexual e de género; a educação para a afetividade e sexualidade; e o celibato dos padres”.
Como prioridades para discussão, nomeadamente, na primeira sessão da Assembleia sinodal, a realizar no Vaticano no outubro deste ano, fala-sena prioridade a dar aos jovens e à participação da mulher na Igreja, à reflexão sobre “o ministério ordenado, considerando a possibilidade de ordenar presbíteros homens casados” bem como “ter uma atenção permanente aos pobres e dar centralidade às diferentes questões de cariz social, bem como às questões relacionadas com a ecologia face aos crescentes problemas ambientais”.
“Dar resposta às novas realidades sociais e afetivas, fortalecendo os vínculos nas Igrejas domésticas com um acompanhamento personalizado das famílias, e acolhendo os novos modelos familiares (famílias monoparentais, famílias reconstruídas a partir de outras, divorciados recasados, famílias com pais/mães do mesmo sexo e com filhos biológicos ou adotados)” é outra das prioridades identificadas, a par do diálogo com “a cultura e com o pensamento contemporâneo, em temas como a inteligência artificial, a robótica ou as questões de identidade de género (LGBTQIA+)” ou a necessidade de revisão da “comunicação e linguagem da Igreja (para dentro e para fora) e a ocupação do espaço público como uma voz credível e de serviço”.
O Sínodo sobre a Sinodalidade, que culminará no Vaticano em outubro de 2024, quer saber como é que a Igreja está a fazer o “caminho em conjunto” no anúncio do Evangelho e chamou, numa primeira fase, “todos os batizados” a darem opinião.
“Uma Igreja sinodal, ao anunciar o Evangelho, ‘caminha em conjunto’. Como é que este ‘caminho em conjunto’ está a acontecer hoje nas Igrejas locais?” -Foi uma das principais perguntas colocadas aos cristãos.
Esta será a mais importante reunião desde o Concílio Ecuménico II, aberto em 11 de outubro de 1962 pelo Papa João XXIII e terminado por Paulo VI em 8 de dezembro de 1965. 
Já nessa altura, o Papa João XXIII queria ir mais longe no seu Concílio e aprofundar as muitas mudanças necessárias. No entanto e tal como agora, os cardeais mais conservadores eram muito resistentes a essas mudanças. O certo é que o bom Papa João XXIII morreu. O seu sucessor, Paulo VI, evitou toda a continuidade transformadora do seu antecessor.
O Papa Francisco enfrenta neste momento uma grande oposição por parte de vários cardeais, sobre a forma como atualizar o Catolicismo aos tempos que correm. A ordenação da mulher tem oposição acérrima dos ultraconservadores. 
Neste Sínodo que assistimos, estamos em crer que, no essencial, tudo ficará na mesma. A Igreja Católica Apostólica Romana continuará na sua saga de renúncia incompreensível ao mais comum dos seus membros, nas mudanças que o mundo exige. 
O Sínodo de Francisco, mais não será do que o sino do Papa. Barulho e nada mais.

José Soares* 

*jose.soares@peixedomeuquintal.com

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