Diário dos Açores

Guerra - Um retrocesso civilizacional

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É verdadeiramente chocante que, em pleno século XXI, estejamos perante duas guerras que ceifam milhares de vidas e destroem recursos inimagináveis. Espalhando sofrimento, destruição e miséria: o espelho de um mundo, dito civilizado.
A origem da guerra é um tema complexo e multifacetado que tem fascinado filósofos, historiadores, sociólogos e cientistas políticos ao longo dos séculos. A guerra é uma das características mais antigas e persistentes da história da humanidade, e entender suas origens é fundamental para buscar maneiras de evitá-la e promover a paz.
Sendo importante ressaltar que as origens da guerra são muitas vezes complexas e multifacetadas, envolvendo uma combinação de fatores económicos, religiosos políticos e culturais. Mas, certamente, os conflitos étnico-religiosos, as ambições geopolíticas e de poder e, cada vez mais, a luta entre democracia e ditaduras tem ocupado, hoje, o centro do palco da guerra.
De um lado as democracias e a liberdade e do outro as teocracias/ditaduras e o obscurantismo. Factores que se afirmam como determinantes nas guerras “modernas”, com ondas de intolerância, radicalismo religioso e sonhos expansionistas. Um luta, cada vez mais evidente, entre liberdade-e-ditadura e entre conhecimento-e-ignorância, invade a Europa e Estados Unidos.
A invasão teocrática/islamista da Europa, sobretudo em países como a França, ganha proporções muito preocupantes e o populismo, liderado por personagens sinistras como Trump, Bolsonaro, Orbán e Ventura, galga as sociedades como uma erva daninha; medrando num caldinho de corrupção que infecta os políticos tradicionais.
As actuais guerras na Ucrânia e no Médio Oriente ilustram, na perfeição tudo isso: aspirações imperialistas e radicalismo religioso, com desprezo absoluto pela vida humana e pela liberdade. A barbárie à solta. Não se tornando necessário entrar em detalhes que aliás nos são fornecidos, às toneladas, pelos canais televisivos generalistas e pelas redes sociais.
Um verdadeiro retrocesso civilizacional.
Como é possível que, em pleno século XXI, promovamos a guerra e a destruição em vez de promover a segurança da nossa casa comum e assegurar o fim da fome e da miséria que, ainda, atinge milhões de seres humanos? Pergunta que é urgente fazer perante tanta insensibilidade e carnificina.
Possivelmente uma das respostas mais evidentes é o aburguesamento e a corrupção das sociedades democráticas liberais que permitiram desigualdades inaceitáveis e abriram as portas ao populismo e ao autoritarismo e toleram, em evidente excesso, os radicalismos religiosos que sempre tiveram uma agenda clara: combater os “infiéis” na sua própria casa e destruir a democracia.
Diagnóstico que, recentemente e de forma brilhante, a primeira-ministra australiana fez, chamando os bois pelo seu nome. A nossas democracias bem-falantes e “super-tolerantes” (ou super-promíscuas?) sempre tiveram e, continuam a ter, pruridos em defender os seus valores face aos desrespeitos e abusos de terceiros.
O combate aos totalitarismos e aos radicalismos religiosos, de qualquer sentido, será o único caminho para combatermos o verdadeiro cancro que invade e está a tomar conta das nossas democracias. Combate diário e duro, sem cedências samaritanas ou complexos ideológicos.
Não deixa de ser irónico que, passado tanto tempo, depois da Revolução Francesa não tenhamos conseguido pôr, cabalmente, em prática as suas palavras de ordem. Talvez trocando apenas liberdade por equidade que traduz bem melhor o conceito de igualdade de oportunidades.

LIBERDADE, EQUIDADE E FRATERNIDADE!

António Simas Santos

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