1 - A crise vulcânica iniciada em Outubro, na península de Reykjanes, na Islândia, teve sinais sísmicos característicos porque o magma (rocha em fusão repleta de gases) quando se movimenta, tem atrito com as rochas onde circula . Em Novembro a equipa de vigilância do serviço nacional de vulcanologia já sabia que o magma avançava, sob a forma filoniana e com caracerística de lava, para Grindavík, uma pequena cidade costeira, piscatória.
2 - Na Islândia a maior fonte de energia eléctrica é de origem hídrica. Segue-se a geotermia quer em termos de electricidade quer para o aquecimento de residências, industrias, escritórios, estufas, etc. A escassos 6 km de Grindavík localiza se a famosa central geotérmica de Svartsengi e um pouco a nordeste o complexo balnear termal denominado Blue Lagoon, um sucesso islandês muito importante [e que foi recomendado, como modelo, para a ilha de S. Miguel em 1977].
O acompanhamento do movimento da lava, muito próximo da superfície, realizou-se por uma equipa pluridisciplinar (geólogos, geofísicos, geotécnicos, eng.civis,). Comunicados frequentes e simples, com esquemas excelentes, foram emitidos de acordo com o ritmo da circulação da lava.
A 10 de Nov., surgiram grandes fracturas e “sinkholes” [cavernas ou algares quase verticais] em plena Grindavik, cortando vias e algumas casas. Cerca de 3 mil habitantes foram metodicamente evacuados. Por dia ocorriam mais de 900 sismos e microssismos. Havia tremor vulcânico em espasmos.
3 - Na central geotérmica edificaram-se espessas barreiras de pedras lávicas e de escórias vulcânicas visando desviar qualquer rio de lava que se aproximasse. E, no subsolo a lava, já mais fluida , por descompressão, progredia , deformando o relevo , rachando ,partindo .
A central geotérmica é um bem muito precioso, dizem me os colegas islandeses e norteamericanos. Há que a proteger já que a lava subterrânea não indica ainda um sítio certo de saída, de extrusão. Então os peritos concordam em se forçar uma saída, ou seja, gerar um vulcão artificial!! Furar o terreno com um robot (manobra viável) e abrir uma chaminé ou obter uma profunda cratera com explosivos, tarefa bem mais arriscada. Aguardemos.
4 - A recente crise sísmica de 2022 em S. Jorge, foi a antítese da actual crise da Islândia. De facto anunciou -se um possível vulcão de modo pouco sereno e sem motivo. Seguidamente, em pânico, duma assentada, duas mil e tal pessoas fugiram para o Pico e para a Terceira. Roturas á superfície e gases letais nunca surgiram , o Prof. Marques, da UAç, montou quartel em S. Jorge numa tenda militar, diversos sábios vieram do continente e da Inglaterra.
A Marinha colocou no fundo do mar OBS fantásticos mas já desnecessários, Sexa o Presidente da República veio provar o queijo de S. Jorge em jacto adequado e o Sr. Presidente da Protecção Civil disse umas larachas. Após semanas, novo e imaginário vulcão foi dado como” falecido “ ou abortado. O Prof. Marques foi silenciosamente afastado do comité central e substituído por uma generosa perita em generalidades... Olhando para o futuro, fico apreensivo porque não observo mudanças de fundo nem reformas efectivas.
Os planos municipais de protecção são para vegetarem nas gavetas. São pesadões e pouco práticos. A maioria das escolas e de outros serviços públicos não os praticam e não os conhecem. R custaram pipas de euros.
5 - Perante o profissionalismo, a comunicabilidade e a firmeza dos colegas vikings, como dizia o saudoso Jô Soares,”que mais nos vai acontecer!!!”
Victor Hugo Forjaz*
*Vulcanólogo