Diário dos Açores

16 Dias de Ativismo pelo fim da Violência Contra as Mulheres

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No reverso das marés

A vida em toda a sua magnitude, todo o seu potencial, em contraste com toda a sua fragilidade, finitude e crueldade.
Vivemos tempos que nos preocupam a todos, ou se não nos preocupa é porque já não andamos neste Mundo.
Penso eu muitas vezes, talvez de forma mais egoísta, em que mundo irá crescer a minha descendência, como lhe responder a questões sobre a guerra, sobre a morte, sobre a fome, sobre o cancro… como conseguir o equilíbrio de lhe explicar que há uma vida cá, ainda que com todos os constrangimentos a que assistimos na atualidade, mas que ainda se vive, e que há uma fronteira que nos é difícil transpor, que é viver num mundo em que a vida humana não tem valor, todos são mortos sem qualquer remorso, as mulheres não têm valor, são violadas, perderam direitos… esta perda está longe de nós, mas ao mesmo tempo tão próxima; as crianças também não têm valor, desnutridas, com doenças, em contextos insalubres, seres humanos tão frágeis e tão resistentes… como se explica isto a uma criança do “nosso” mundo, esta consciência de que na verdade a vida é mordaz, acutilante, desprezível, não há sonhos, em contraste com os “direitos” que supostamente temos, que podes ser tudo o que quiseres, que o sonho comanda a vida, que não há impossíveis, só oportunidades e possibilidades.
Qual é a Verdade?? O que é Utopia?? Onde está a dignidade em tudo isto??
Uma mentora muito sábia, respondeu-me…teremos de lutar novamente, se perdermos direitos teremos de os conquistar novamente…ela não hesitou na sua resposta, que murro no estômago perceber que na verdade nada é assim tão adquirido, tudo é como o cristal, basta um ligeiro toque, e de repente todos os cristais quebram, o que temos é a resistência, a força, a perseverança, o sentido de justiça, o querer estar à tona neste mundo tóxico, desequilibrado e tão instável.
O tema dos 16 Dias de Ativismo vem neste reverso das marés nos lembrar que a luta continua todos os dias, o seu mote “Paz, a Dignidade e um Planeta Saudável”, é quase como uma metáfora sarcástica do momento atual, não temos Paz, ninguém a pode ter sem ter no seu consciente o mundo à sua volta, ou está louco ou insano, a dignidade está de férias nas Maldivas, aborreceu-se connosco, já não tem pachorra para nos aturar (Haja santa paciência, parece que não aprendemos nada com os séculos passados!! Haja tanta burrice); o planeta está em momento sabático, sente-se intoxicado com a ingratidão do ser humano, já tomou meia dúzia de antibióticos e continua com infeções respiratórias, só lhe apetece fechar indeterminadamente e bater-nos com a porta na cara.
Em tom de brincadeira, mas em tom muito sério, que Paz, que Dignidade e que Planeta deixaremos para quem se segue, e olhem que quem se segue podem ser os “nossos” (perdoem-me o egoísmo)…nem todas têm a capacidade de investir um pedacinho de terra em Marte!
Em frente Guerreiras em Frente!
Na luta…Sempre!

Carla Mourão *

*Psicóloga da UMAR-Açores do Faial

Campanha 16 Dias pelo Fim da Violência contra as Mulheres 2023

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