Diário dos Açores

Combatendo desigualdades com a linguagem inclusiva

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“Marido e mulher ambos são bons homens”, enfim, posto que muitas desproporções ou dissemelhanças se cometem na nossa língua… Fernão de Oliveira, Gramática da linguagem portuguesa, 1536 (Cap. XLIX)
Já, há cinco séculos, aquele que é considerado o primeiro gramático português, ironizava com a supremacia do género masculino na língua portuguesa. O masculino por defeito, genérico, universal ou neutro como é conhecido, é usado como sendo o género gramatical que representa todas as pessoas, independentemente do género.
Desde os anos 70, porém, vêm sendo reunidos dados da investigação que evidenciam que o género masculino na linguagem não é neutro.O estudo de Matos (2020) evidencia, além disso, que é possível contrariar a invisibilidade concetual das mulheres fazendo referência à sua presença. O mesmo estudo reúne evidências da importância do contexto e do impacto que a estrutura de uma língua natural, o Português Europeu, no caso, pode ter na cognição humana. Também, em 1956,Whorf postulou que era possível estabelecer diferenças cognitivas entre pessoas que falavam linguagens com estruturas gramaticais distintas.
Assente nesses resultados a linguagem inclusiva objectiva a visibilidade e a representatividade de outros géneros que não o masculino.Sendo que a linguagem não deixa de ser uma construção social que espelha  um conjunto intrincado de crenças, atitudes e valores e que têm implicações na forma como perspetivamos o mundo, quem nos rodeia, como nos relacionamos e comportamos, a linguagem inclusiva pretende desafiar uma conceção centrada no padrão de homem branco, cisgénero e heterossexual, mas também capacitista, xénofoba e colonialista, integrando não só uma perspectiva de género mas uma visão intersecional, sensível a outras discriminações. Despatriarcalizar a linguagem através da linguagem inclusiva é uma ferramenta no combate às desigualdades através de, por exemplo, reconhecer e tratar pelo nome e pronome que a pessoa desejar, questionar e reformular expressões da linguagem que perpetuam estereótipos e visibilizar todos os géneros das pessoas a quem é dirigido um texto/discurso ou usando linguagem não sexista quando não é conhecido o género do público a quem é dirigida a mensagem.
A utilização de uma comunicação inclusiva é antes de mais um exercício de empatia, permitindo e respeitando a autodeterminação, reconhecendo cada pessoa edando-lhe existência. Se não se nomeia, não existe, ou está invisível ou é excluída.

Joana Moreira

Fique bem, pela sua saúde e a de todos os Açorianos!
Um conselho da Delegação Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses.

Nota: Este texto foi escrito em linguagem inclusiva, deu-se conta?

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