OGE 2022: Um drama absurdo
Mário Abrantes

OGE 2022: Um drama absurdo

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O PSD diz que vai votar contra o Orçamento Geral de Estado (OGE) 2022.Não há pânico de qualquer espécie, nem ninguém o acusa de criar uma crise em cima de outra crise, seja o Governo, seja o Presidente da República.
O CDS anuncia que fará o mesmo e também nenhum alerta preventivo chega da boca do Governo ou do P. da República como resultado de tal anúncio.
A vida continua e o país rola ansioso na sua precária estabilidade política, aguardando de mãos estendidas os carregamentos de notas que estão para vir de Bruxelas, para o PRR e o quadro comunitário de apoio…
De repente todo o cenário muda. Aqueles que, ao contrário da direita, em lugar de ignorar à partida as consequências políticas da sua atitude lesiva da estabilidade política, se esforçaram antes para não a pôr em causa, tentando negociar com o governo as medidas que em seu entender seriam as mais adequadas às necessidades do país e do seu desenvolvimento justo e equilibrado, começaram a ser sistematicamente bombardeados com todos os tipos de chantagem e até ameaças caso viessem a optar por um voto semelhante ao do PSD e CDS. Chantagens e ameaças dramaticamente acompanhadas pelos principais órgãos de comunicação social que multiplicavam por três as consequências do chumbo do OGE 2022,chegando mesmo a dar-lhe, não poucas vezes, uma dimensão catastrófica para país e para os portugueses.
Estávamos perante uma tentativa massiva do Governo e do Presidente da República, bem como dos média e dos “opinion makers” por eles contratados e em geral conotados politicamente com o PSD e o PS, para obrigarem a esquerda do BE, do PCP ou dos Verdes a prescindir das suas opções, por mais favoráveis ao país e aos portugueses que elas fossem, em nome da “estabilidade” político-económica de Bruxelas e da retomada disciplina do défice do Estado.
Tudo foi feito, enfim, para afunilar a suprema responsabilidade por uma nova crise, resultante do chumbo do OGE 2022, diretamente para os que menos responsabilidades têm tido pelas reais crises que o país e os portugueses atravessam, acrescentando depois uma chantagem e uma ameaça novas do Presidente da República, a de eleições antecipadas que, apenas por decisão arbitrária de um inesperado arrependido da estabilidade, seriam convocadas em caso de chumbo do OGE…
Num país tão desigual e com tanta pobreza, com a previsão da economia crescer 5,5% em 2022, e sem que esteja previsto, apesar de algumas alterações introduzidas ao OGE nas negociações com a esquerda, que a maioria dos cidadãos venha a sentir ou a beneficiar desse aumento de riqueza de forma correspondente, não será razão mais que suficiente para, como expressamente afirmou o PCP, a esquerda votar contra tal orçamento?
E se a gravidade da crise provocada pelo chumbo do OGE fosse tão grande como a pintam, que necessidade teria então o Presidente da República, senão para satisfazer a vontade do PSD, de aprofundá-la convocando eleições antecipadas, em lugar de deixar o governo governar mesmo em regime de duodécimos, de acordo aliás com a sua predisposição?
As eleições antecipadas serão assim um ato da inteira responsabilidade do Sr. Presidente da República e de mais ninguém.
Não venham portanto aqueles que defendem de facto essa solução vociferar à exaustão que a culpa de tal opção ter sido tomada é daqueles a quem tanto se empenharam em apelidar de parceiros da “geringonça”…

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