Amanhã pode ser tarde demais
Teresa Nóbrega

Amanhã pode ser tarde demais

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A pandemia trouxe consigo o período mais negro do Serviço Nacional de Saúde. Longos meses de baixa actividade do sistema hospitalar, ditada pelos confinamentos e pelo regime de segurança instalado para evitar o contágio com o SARS-CoV-2 nos hospitais, originaram longas listas de espera que os recursos humanos existentes não conseguem resolver. ´
É raro o dia em que não é notícia de primeira pagina nos jornais, na rádio e na televisão do Continente as demissões em cadeia de responsáveis hospitalares cansados por uma luta constante contra a falta de meios para atender todos os doentes.
Entre nós já nos bastava as graves insuficiências do Serviço Regional de Saúde, que iam muito para além das longas listas de espera pré-COVID. Agora somos também atingidos pelos constrangimentos pós-COVID do Serviço Nacional de Saúde.
Caso dramático é o que está a acontecer com as cirurgias cardíacas, as quais sempre se realizaram em hospitais do Continente porque os hospitais públicos dos Açores não estão preparados para realizarem estas cirurgias.
Antes da pandemia os hospitais do Serviço Nacional de Saúde recebiam três doentes dos Açores por semana para cirurgia cardíaca. Mas durante os sucessivos confinamentos o número de cirurgias nestes hospitais reduziu-se drasticamente, originando longas listas de espera dos seus doentes. Os doentes cardíacos dos Açores entraram também em lista de espera nestes, presentemente são cerca de 90, e só têm sido sujeitos a cirurgia aqueles em que a situação clínica já evoluiu para muito grave.
 Neste momento há um doente internado no HDES nestas condições, à espera de ser chamado por um dos hospitais do Continente. Os outros, os emergentes aguardam em internamento hospitalar até serem transferidos e os menos críticos esperam em regime ambulatório.  
A situação é dramática porque são doentes que já tiveram enfartes ou isquémias do coração, vulgarmente conhecidas por anginas de peito, e que a qualquer momento podem ter outro enfarte que poderá ser fatal. São doentes que já têm sintomas graves, alguns muito jovens e cuja situação clínica só se resolve com cirurgia. Vivem numa angústia permanente à espera da sua tábua de salvação, a cirurgia. Um drama que envolve doentes, familiares e médicos.
Os funcionários públicos, beneficiários da ADSE, têm recorrido ao moderno Hospital Internacional dos Açores, o único na Região equipado para estas cirurgias. Aos outros resta a esperança de que quando chegar a sua vez no sistema público não seja tarde demais.
Uma discriminação entre sistemas de previdência difícil de entender. Não pode haver diferenças na assistência na saúde entre quem trabalha no público e no privado.
O sistema privado de saúde é complementar do sistema público e quando o sistema público não consegue dar resposta atempada, principalmente nos casos graves em que os doentes correm sério risco de vida se não forem tratados rapidamente, é criminoso não avançar para o sistema privado.
Urge estabelecer protocolos com o sistema privado para compensar, sempre que for necessário, as insuficiências do nosso Sistema Regional de Saúde. São necessárias decisões políticas para que haja vida e esperança. Só assim chega até aos cidadãos a Autonomia da Responsabilidade.

*Jornalista
A autora escreve segundo a anterior ortografia

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