(Des)igualdade de género: uma questão de poder?
Solange Ponte

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Campanha 16 Dias pelo Fim da Violência contra as Mulheres 2021

“É importante reiterar que a situação das mulheres é pior do que a dos homens pelo simples facto de serem (ou nascerem) mulheres. Já para não falarmos se estas forem ou pertencerem a grupos minoritários (...) Importa reforçar que se o Mundo passa actualmente por grandes dificuldades, a igualdade de género é um meio que permite a redefinição e transformação do poder, oferecendo soluções (reais) sendo, por isso, parte fundamental da resposta!”

 

A propósito dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra As Mulheres, este artigo procura refletir sobre a (de)igualdade de género, afrontada enquanto desafio colossal em matéria de direitos humanos.
Li atentamente uma comunicação proferida pelo Secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. Despertou o meu interesse por esboçar, sobretudo, situações e atitudes globais “menos boas” que acontecem- à escala mundial - contra as mulheres.
É importante reiterar que a situação das mulheres é pior do que a dos homens pelo simples facto de serem (ou nascerem) mulheres. Já para não falarmos se estas forem ou pertencerem a grupos minoritários (mulheres migrantes, portadoras de deficiência, refugiadas, idosas, entre outras).
A título de exemplo, e embora tenhamos assistido ao longo dos últimos anos a um enorme progresso nos direitos das mulheres como o avanço no sector educativo através do acesso das raparigas à escola e a abolição de leis discriminatórias, atualmente verificamos retrocessos.
Como podemos sequer pensar que alguns países estão a introduzir medidas de austeridade ou de reprodução coerciva que penalizam as mulheres, enquanto outros descartam ou diluem a proteção jurídica de crimes de violência doméstica ou de abuso ou violação sexual?
Acrescido a isto, o facto de estarem sujeitas a mitos, tabus e julgamentos sobre a sua aparência e a função dos seus corpos.
É certo que isto vem ameaçar os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres!
 Estas situações (e tantas outras) ocorrem se pensarmos que as questões da (des)igualdade de género são, essencialmente, uma questão de poder.
Se remontarmos a séculos de patriarcado, onde imperaram a opressão e a discriminação, facilmente notaremos a disparidade de poder entre os géneros, sobretudo nos sectores políticos, económicos, sociais e empresariais.
Viabilizemos algumas destas ideias. A disparidade salarial entre os homens e as mulheres é apenas um sintoma da diferença de poder entre géneros.
De acordo com o mais recente estudo do Fórum Económico Mundial, as mulheres ganham 77 cêntimos por cada dólar auferido pelos homens. Serão necessários 257 anos para eliminar este fosso.
 Em Portugal, segundo o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, corresponde a 52 dias de trabalho remunerado ou  148,9 euros de vantagem sobre os primeiros.
No âmbito político, há uma distinção clara de poder onde as mulheres são superadas em número numa média de 3 para 1 em cargos de presença nos parlamentos, por exemplo.
Ainda, em eventos que premeiam o talento, as mulheres continuam a ser excluídas das posições de topo.
Outro aspeto fundamental alude-nos às guerras mundiais onde há uma associação direta entre a opressão civil, os conflitos e a violência contra as mulheres.
Importa reforçar que se o Mundo passa atualmente por grandes dificuldades, a igualdade de género é um meio que permite a redefinição e transformação do poder, oferecendo soluções (reais) sendo, por isso, parte fundamental da resposta!
Termino reforçando a ideia de António Guterres: “É hora de parar de tentar mudar as mulheres e começar a mudar os sistemas que as impedem de alcançar o seu potencial”.


*Psicóloga clínica e forense da APF-Açores

 

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