O diretor do Museu Carlos Machado, João Paulo Constância, defendeu, na Assembleia Regional dos Açores, que o património da fábrica de açúcar SINAGA, em Ponta Delgada, deve ser preservado, propondo a criação de um centro interpretativo.
“Nesse caso da SINAGA, parece-me muito claro que aquilo que poderá tornar viável esta opção de preservação é preservá-la ‘in situ’ (no local). Nomeadamente, não só o edifício em si, como parte daquilo que podemos chamar o património integrado, que são os grandes equipamentos que não faz sentido retirar daquele local”, afirmou.
O diretor do museu de Ponta Delgada falava na comissão de Assuntos Sociais da Assembleia Regional, a propósito da proposta da IL para a criação de um Núcleo Museológico da Indústria Açoriana dos séculos XIX e XX e da iniciativa do PAN que propõe a proteção e do património da SINAGA.
A 27 de outubro de 2021, o grupo de cidadãos “Santa Clara - Vida Nova” anunciou que entregou uma providência cautelar para travar “todas as ações de desmantelamento” da fábrica da SINAGA, em Ponta Delgada, que foi extinta pelo Governo dos Açores.
A 11 de novembro, o Governo Regional disse desconhecer “eventuais solicitações” do Tribunal de Ponta Delgada relativamente à providência cautelar de um grupo de cidadãos para “impugnar a legitimidade do desmantelamento” da extinta fábrica de açúcar.
Esta segunda-feira, o diretor do Museu Carlos Machado defendeu que as “atuais instituições não têm capacidades financeiras nem de recursos para poderem salvaguardar, estudar e inventariar” o património daquela fábrica.
“A solução passaria por se conseguir encontrar uma forma de financiar um projeto que passaria pela preservação do edifício e do património móvel, eventualmente integrando numa solução mais abrangente, mas que passasse por um centro de interpretação das agroindústrias e de toda essa memória”, acrescentou.
João Paulo Constância assegurou que o património móvel da açucareira “está à guarda do Museu” Carlos Machado e que, “à conta disso”, a instituição já “não tem espaço disponível rigorosamente nenhum”.
“Nós todos reconhecemos o valor e conseguimos elencar um conjunto de argumentos, mas depois, realmente, para ser consequentes, precisamos de afetar recursos, afetar verbas, afetar recursos humanos”, assinalou.
As declarações do diretor do Museu surgiram após o deputado da IL, Nuno Barata, ter sugerido que o edifício da SINAGA, em Ponta Delgada, poderia ser o local “ideal” para reunir um “conjunto de acervos” que estão “dispersos” sobre a indústria micaelense do início do século XX.
“Não vejo na nossa ilha outro espaço com tão boas condições para realmente albergar um projeto de caráter museológico e cultural”, reforçou Constância sobre as instalações da SINAGA.
Ouvido sobre as mesmas iniciativas, o presidente da Junta de Freguesia de Santa Clara, António Cabal, enalteceu o “património único” da açucareira e alertou para a importância de se “salvaguardar o espaço da fábrica”.
“Sempre demonstrámos interesse sobre a Fábrica do Açúcar. Sempre questionámos o governo anterior e o atual sobre a Fábrica do Açúcar. Nunca nos foi dito o que pretendiam fazer”, afirmou o autarca.
A Fábrica do Açúcar foi instalada na freguesia de Santa Clara em 1906, tendo sido comprada pela SINAGA em 1969. Desde 2010, tinha uma participação de 51% do Governo Regional.