FELIZ ANO 2022
Alfredo da Ponte

FELIZ ANO 2022

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Ainda foi no outro dia a ocasião de desejar aos amigos e familiares um próspero ano de 2020. Apesar de tudo, dois anos rapidamente passaram sem dar-mos por isso; e ainda temos retratadas na memória as cenas vividas naquela noite de Réveillon.  
   Foi uma linda terça-feira, dia de trabalho. Mas havia planos para celebração de passagem de ano, pelo que, no emprego foi solicitada a saída duas horas antes do turno terminar.
   Assim, com a chegada a casa, tomou-se um duche rápido e, larga carro a caminho do Estado de Connecticut. Duas horas de viagem, por causa da hora de ponta. Chegada ao casino Mohegan Sun às seis da tarde. Setenta e seis milhas (aproximadamente 122 Km) percorridas entre Fall River e Uncasville, com o propósito de assistir a um espectáculo de comediantes ao vivo.
   Procurou-se um bom restaurante para se celebrar as despedidas de 2019. Esposa feliz, marido contente. Calma, descontração e olho no relógio. Pequena caminhada pelas redondezas, e fez-se tempo para nos dirigir-mos à sala de espectáculos. Ás nove em ponto deram início ao show. Gargalhadas e mais gargalhadas. Na verdade, Joe Gatto, James Murray, Brian Quin e Salvatore Vulcano – os Impractical Jokers da televisão americana - fazem, sem sombras de dúvida, um bom espectáculo.
   Onze da noite, para não dizer vinte e três, saída da sala de espectáculos e um andamento pelas ruas daquele mundo debaixo de um tecto, onde se notou, praticamente ao meio dele, sinais de festa rija para as boas-vindas de 2020.
   Decidimos por ali ficar, escolhendo no piso superior um lugar com boa vista para o palco, que ficava em baixo, onde mil e uma manifestações de dança, música e alegria desenrolaram seus pergaminhos durante a noite. A cada minuto que passava notava-se a evolução do aglomerado de pessoas de toda a espécie. Faltando um quarto de hora para a meia-noite a gente já não se podia mexer. Quem olhava para baixo tinha a noção de estar a ver um formigueiro. Temos a certeza absoluta que o COVID-19 por cá já andava sem ninguém saber.
   Enquanto que na Times Square, na cidade de New York descia a bola, ali, no Mohegan Sun, se contava em ordem decrescente de dez a zero. As tais zero horas de dois mil e vinte. Bem Vindo, ano novo! Feliz 2020 para todos! Esguichos de champanhe por todos os lados, beijos e abraços, empurrões, encontrões, faróis acesos, foguetes sem pólvora, etc. A música passa a tocar com mais força, as pessoas falam mais alto para se fazerem ouvir. Mais dançarinas, e mais música. “Feliz ano novo!” ouviu-se bem alto, não sei quantas vezes.
   Queríamos abandonar o local nos primeiros trinta minutos do ano, mas ao ver que não havia atalhos e por não gostarmos de apertos à tôa, aconselhamos a nós próprios esperar mais um pouco.
   A uma da manhã trouxe junto a nós uma certa abertura que nos conduziria a um atalho para tentar escapar àquela doidice. Nela nos enfiámos, e de seguida demos conta que andávamos perdidos no meio de uma floresta de gente.
   Passados uns trinta e cinco minutos estávamos ao pé da porta que nos havia deixado entrar algumas horas antes. Depois, os atrasos de saída do parque de estacionamento resultaram em olhar para o relógio e notar que passava das duas da manhã quando as rodas do automóvel começaram em movimento de rotação lenta, levando o veículo até à estrada.
   Precisamente no ponto de desvio fomos surpreendidos por uma equipa policial. Paragem obrigatória. Livrete, carta de condução. Luz branca nos olhos, para ver se havia pupilas dilatadas. Seria azar e mais alguma coisa se eu as tivesse. Água salgada não dilatam pupilas. A minha mulher é que tinha enfiado uns copinhos, mas nada demasiado. Tudo normal, boa viagem, foi o que nos disse um oficial. A pressa de sair da operação stop foi tanta que, em vez de voltar para a esquerda fomos sempre em frente, indo meter-nos numa outra estrada, direcionada ao interior do Estado.
   Disse a esposa que aquele não parecia ser o mesmo caminho, perguntando-me se eu queria que ela ligasse o “g.p.s.” do telefone. Que não, respondi. A minha cabeça é mais do que uma bússola e, além disso, sou um perito em geografia. Dito e feito. Dali a dez minutos apareceu um sinal de informação, dizendo que o cruzamento com a estrada 6 aconteceria daquele ponto a duas milhas.
   Não tínhamos pressa. Aliás, fizemos uma maravilhosa viagem de regresso a casa. Viemos falando em mil e um assuntos. Rimos como duas crianças e conversámos como dois adultos. Recordámos bons e maus momentos, o que se fez que não deveria ser feito, e o que não se fez que era imperativo fazer. Demos as mãos e desejámos bons-anos um ao outro. Um “love you” para cá, outro para lá. Só faltou estacionar o carro na berma da estrada e namorar como dois jovens esfomeados de amor. Realmente, foi esta ideia que nos passou pela cabeça fazer. Mas devido à intervenção da polícia que tivemos uma hora antes, resolvemos esperar para chegar a casa. Graças a meio litro de café do Dunkin Donuts, o sono só nos alcançou quando nos encontrámos envoltos nos lençóis e cobertores, pouco depois das quatro da manhã, esquecendo por completo as intenções namoradoiras que tivemos na auto-estrada.
   Acordámos com o ladrar do cachorro, a dizer-nos que estava apertado e tinha de ir fazer chichi. Graças a Deus, ele teve a consciência de se aguentar bastante para nos deixar dormir até às dez. Bela hora para um cafezinho fresco, e para começar a alinhavar o almoço, que acabou servindo de jantar.
   Foi uma passagem de ano diferente daquelas a que estávamos habituados, porque sempre fazíamos o “Réveillon” na companhia de familiares e amigos. Foi a primeira deste género por causa dos dois bilhetes que nos foram oferecidos para ver aquele espectáculo dos “Impractical Jokers”.
   2020 trouxe-nos tudo aquilo que nos fez modificar o nosso estilo de vida, ao qual já nos habituámos; e no que diz respeito ao presente ano, como passámos o teste do outro, neste não nos custa nada estar sós.
   Mil votos e saudações foram lançados aos quatro cantos do mundo, para familiares e amigos. A tecnologia permite-nos; e sem ela nos tempos que correm nada não se faz. Isto significa que mesmo separados estamos unidos. Temos esperança que virão dias melhores, e a fé de que mais força teremos depois de nos levantarmos desta queda.
   Confesso que não tinha a mínima ideia do ponto que esta crónica iria atingir. Mas tenho a certeza que do fundo do coração desejo a todos os leitores e amigos deste jornal um ano novo muito bom, próspero, saudável e feliz. Sempre com esperança. Pois, com ela as outras virtudes se hão de fortalecer.

   Feliz 2022 para todos. Haja saúde!

 

Peço a Deus com confiança
Saúde  para o meu povo
Que vive na esperança
De ter feliz ano novo.

Não se canta as Janeiras
Nem os Reis se irá cantar.
Porque é uma das maneiras
Da pandemia abrandar.

Vamos tocar as buzinas,
fazer uso das vacinas,
Toca, toca a vacinar.
Haja na gente esperança
Que esta maldita andança
No mundo tem que acabar.

 


*Fall River, Massachusetts

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