Rubens Pavão

Uma semana para meditar e refletir

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Opinião

Entramos na «Semana Maior» para os micaelenses - daqui e do mundo da diáspora – e também onde pulsa um coração que nos transporta até ao Convento da Esperança, quando tudo se prepara para, após um triste interregno de dois anos, a veneranda Imagem do  Senhor Santo Cristo vai voltar a encontrar-se « frente a frente»  com os seus devotos e com todos aqueles que, por vezes afastados, continuam a manter um   sentimento de muita ternura por aquilo que lhes transmitiram os seus antepassados.
Para todos nós será uma semana de reparação e de reflexão por tudo o que nos aconteceu, para os que vão continuar a poder ver o «seu» Senhor, pelos que no sossego e na solidão dos seus lares O acompanham «sós»; e pelos que, entretanto faleceram, mas deixaram um rasto de saudade.
Aquele olhar infinitamente misericordioso com que o Senhor nos acolhe na tarde de sábado ao sair do Convento, é o mesmo que continua a abrir-se a tantas e tantas gerações que tanto hoje como ao longo de séculos se envolveram no mesmo gesto, na ânsia incontida de descortinar como vem o seu rosto: alegre ou triste, se tal como projectámosas coisas que fazem parte da nossa vida.
Não é de agora, mas de sempre, que nem todas essas celebrações têm o consenso de todos, (quer por isso … ou por aquilo), mas o motivo que nos leva a peregrinar pelas graças alcançadas em todo este «interregno» superam tudo em amor e reconhecimento!
E, como sempre acontece, é a festa do Senhor, que nos dará a humildade e a confiança para que no nosso coração se abra a novos dias, novas opções no «ajustar» de situações que nos ajude a discernir o verdadeiro significado de partilha.
Este ano, o que nos deve encantar é que o Senhor Santo Cristo vai novamente sair do Convento da Esperança e percorrer a cidade em mais uma gloriosa caminhada  de esperança e  de louvor para continuamos a lutar por uma vida que, se nem sempre tem sido fácil no seu dia-a-dia, nos possa conduzir a novas formas de pensar e de agir  em sociedade e nas famílias; mas também com os jovens, com os trabalhadores, com os que procuram trabalho, com os doentes, os «velhinhos» e também para os povos desta Europa de leste, hoje confrontados com uma guerra onde só impera o poder, a força contra o próprio  direito internacional ; e até connosco, açorianos, sobretudo os jorgenses, na incerteza duma crise sísmica que ainda se prolonga e onde, por causas naturais, se joga o futuro dum povo.
Sem moralismo, creio ser uma reflexão-meditada que nos deve motivar ao olhar o Senhor Santo Cristo, mesmo nestes dias em que vai principiar a azáfama na compra dos círios, - grandes e pequenos, ou com o peso de cada um - e nos prepararmos para O acompanhar quer na mudança de sábado, quer na procissão de Domingo e ainda nas vigílias de oração que se celebram no Santuário e na Igreja de S. José.
Ainda há pouco, pedimos e obtivemos uma nova comunidade religiosa que fosse a «guardiã» entre o povo e o culto ao Senhor - e o milagre aconteceu – com vinda das Irmãs de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor, que já afirmaram sentir-se acolhidas pela comunidade!
E disso já fui testemunha quando, num sábado à tarde, visitando o Santuário – como já não fazia há muito - pude assistir a um momento de oração que as irmãs estavam a realizar com um grupo de devotos; e distribuíam cânticos e entusiasmavam todos a participar.
Aliás, numa notícia publicada há dias no Jornal «Correio dos Açores» a Irmã Jaqueline Mendes afirmava que se propunham «numa doação à vida orante para que este local ( o Santuário) se tornasse uma escola de oração que era a « nossa» principal missão, pois eram uma congregação com dois estilos e vida: apostólica e contemplativa».
Obrigado Senhor! pelo que de novo nos concedeste, pois sem essas ajudas decerto que, para  trilhar o  caminho  que nos leva à  alegria  da festa deste ano,  não seria o mesmo!
Nessa missão de generosa ajuda, recordo o carisma da Congregação da Filhas de Maria Imaculada que foram as últimas «guardiãs, mediadoras e até confidentes de muitas orações, aflições e de muita fé no Senhor Santo Cristo», como deixou expresso a Irmã Célia Faria, na sua despedida.
E recordo, saudosamente, a figura ascética da Irmã Beatriz, aquela que o povo chamava e bem - «a freira» do Senhor Santo Cristo!
Por último - e como diz o povo, «os últimos são os primeiros» - vamos celebrar o Senhor Santo Cristo, mas com a Diocese à espera da nomeação dum novo Bispo e, segundo disse há dias o Núncio de Sua Santidade na visita que nos fez, «o processo era bastante longo e  que eram precisas bastantes semanas de trabalho para o concluir»…
É mais uma prece que se põe à reflexão dos açorianos nesta semana que hoje começa e que nos desafia - como escreveu o Cardeal Tolentino de Mendonça no «Elogio da Sede» - « …  que não nos basta um cristianismo só de sobrevivência, nem um catolicismo de manutenção: precisa, sim, duma alma jovem e enamorada, alimenta-se da alegria e da procura e da descoberta, não teme o desafiador e o disruptivo, arrisca a hospitalidade, o encontro e o diálogo».
Que nesse diálogo com o Senhor se desfaçam as dúvidas que ainda nos preocupam frente ao futuro, «precisamente porque o diálogo de Deus com a nossa vida é bem real, e o nosso percurso não se resolve por nenhum passe de magia».
Que todos tenhamos uma Festa em paz e serenidade, «pois trazemos em nós muitas SEDES»!

Rubens Pavão

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