Diário dos Açores

O facto, o número e o nome

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Olhar do Sul

O facto...

Religiosas, pagãs ou… de todos?

Dois anos sem a celebração das Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres deixaram os devotos com a óbvia vontade de um regresso em pleno das maiores celebrações religiosas açorianas (e segundas maiores do país, depois das peregrinações a Fátima). Seria sempre, o das limitações pela crise pandémica, um período inesperado e prolongado. Mas é-o muito mais quando se trata de um ponto incontornável de encontro e de manifestação de crença e de fé, muitas vezes o último e insondável recurso de quem verdadeiramente acredita e encontra na imagem do Senhor Santo Cristo o conforto ou o desabafo.
Portanto, é absolutamente natural que a sensação final das festividades religiosas de Ponta Delgada seja de agrado absoluto da esmagadora maioria dos que nelas participaram. O Reitor do Santuário da Esperança sublinhou-o com toda a razão, embora essa fosse a mais previsível das razões e das reações.
Mas Adriano Borges teve, ao longo de todo o caminho de preparação destas festividades, um discurso reservado, restritivo e demasiado focado na componente religiosa da semana maior de São Miguel. A tentativa de “preservação” do caráter religioso em detrimento da complementar e indispensável componente pagã foi um dos sinais dados pelo principal responsável. O “manto protetor” dos resquícios pandémicos, num momento em que, até de um ponto de vista formal, são mínimas e muito localizadas as restrições ao curso de vida normal, terá sido o argumento sempre esgrimido para tentar justificar o injustificável, para tentar forçar um cunho pessoal numa organização que é (tem de ser) universal, abrangente, inclusiva e agregadora.
Só pela pressão social as festas na principal cidade de São Miguel acabaram por assumir um figurino relativamente próximo do habitual e há muitos anos tradicional. Alguns momentos alterados (como a mudança da imagem para o final do dia de sexta-feira, com evidente prejuízo de uma larga faixa de fieis para quem esse dia é, obviamente, de trabalho…), alguma altivez (mais por atos do que por palavras), e a recorrente tentativa de adulteração do nome do Campo de São Francisco para “Campo do Senhor” (o que, estou certo, razões históricas impedirão que alguma vez suceda), apenas terão afastado ainda mais o Reitor do Santuário de um provável (e quase insondável) desejo: o de poder vir a ser o máximo responsável pela igreja açoriana.
A igreja moderna, aberta e acolhedora defendida pelo Papa Francisco talvez não esteja pelos ajustes…

O número...

81 (anos de rádio pública)

O dia de ontem foi de festa para todos os que fazem e escutam a rádio pública nos Açores. Ao completar 81 anos, a Antena 1 Açores também completa, todos os dias, um círculo seguro e biunívoco de relação com os açorianos.
Ligar as ilhas é muito mais do que assegurar - como é da sua competência formal - informação rigorosa, equilibrada, independente e permanente. No caso de um arquipélago com a descontinuidade geográfica dos Açores, o serviço público de rádio tem resistido a toda a erosão, a todas as “ameaças” que qualquer simples análise SWOT descortinaria, ao advento em pleno da televisão, à emergência do digital, ao desinvestimento estrutural que durante muitos anos existiu, à falta de motivação de muitos recursos humanos.
Tratando-se de um fenómeno transversal de companhia, de afetos e de credibilidade, a rádio pública no arquipélago vive, agora, um dos maiores desafios da sua longa história: a reinvenção de conteúdos, a necessidade de imaginação e talento, a prioridade às condições de quem a faz, como fatores fundamentais para garantir que quem a ouve lhe continua a atribuir todos os méritos e virtudes que dela fizeram um instrumento essencial e universal da vida dos açorianos.
E este é um desafio que só o talento, a organização, o planeamento e o profundo respeito pela marca podem superar. Os próximos tempos (como, afinal, cada um dos 81 anos de vida da Antena 1 Açores), serão decisivos para o conseguir.

O nome...

Paulo Moniz

Descrição. A mais apreciada condição para que um eleito possa desenvolver da melhor forma as funções públicas que, durante determinado período, lhe são confiadas.
Motivação. O fator essencial de alguém que se candidata para, verdadeiramente, defender os eleitores que lhe confiaram o seu voto, sem subterfúgios de “carreira política” ou interesses de promoção pessoal.
Dedicação. A capacidade de perceber dinâmicas, de distinguir o essencial do acessório, de conferir prioridades e de estudar as alternativas, sempre em função de um bem maior (a defesa de uma região), em detrimento das querelas e chicanas partidárias do momento ou de algumas pessoas.
Credibilidade. A profundidade com que os temas são estudados e a seriedade com que são debatidos. A clareza com que são explicados e a perseverança com que são defendidos.
Tudo isto tem, na Assembleia da República, um nome que não busca ser membro do governo, que não chegou a São Bento por conveniência partidária, que tem uma carreira para lá da política e que, por isso mesmo, sabe que o lugar de Deputado que atualmente ocupa não é seu, é dos açorianos. Paulo Moniz é o melhor deputado que os Açores poderiam desejar para defender a região no parlamento nacional.
E prova-o todos os dias.

 


(*) Jornalista e Apresentador de Televisão
Joanesburgo, 27 de maio de 2022

Rui Almeida (*)

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