Diário dos Açores

Insucesso à vista

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Peixe do meu quintal

Um amigo disse-me há dias:
“A questão é que, quando queremos receber visitas na nossa casa, primeiro limpamos e organizamos a casa para depois abrirmos as portas. No que se refere ao turismo, estamos a escancarar as portas, sem termos arrumado e limpado a casa antes. Resultado: o próximo verão vai ser um caos. Vamos ter um aumento considerável de aviões com turistas estrangeiros; os continentais cada vez mais a escolherem os Açores para visitar e os residentes em férias nas suas Ilhas. Resultado: os meses de julho e agosto vão ser de caos absoluto, porque não nos preparamos convenientemente com a devida mão-de-obra. A falta de recursos humanos para tamanho fluxo é enorme”.
Tive de concordar em absoluto com ele. De fato e depois de durante décadas andarmos a choramingar por falta de turistas, agora temo-los em quantidades (e a tendência é para continuar a aumentar), mas não temos as condições para trabalhar no ramo, por uma enorme falta de recursos humanos. Onde anda esta gente? E porque temos pessoas no desemprego? Algo não bate certo.
Visitem a Madeira e aprendam com quem sabe destas coisas. A roda está inventada, basta melhorá-la. Em vez de gastarem fortunas de dinheiro público com Associações opacas, gastem esse dinheiro com gente que sabe. Façam vir madeirenses bem pagos, ligados ao ramo turístico para nos ensinar como se deve fazer.
A Ilha de São Jorge viveu semanas de crise económica profunda, reflexo da crise sismovulcânica paralela. Para reativar a sua economia, façamos gratuitas, com tempo limite de trinta dias, as passagens de barco das restantes oito Ilhas para e de São Jorge. Turistas incluídos, obviamente. Custar-nos-á menos do que subsidiar os prejuízos económicos causados. Anunciar viagens de barco durante 30 dias, grátis de e para a Ilha de São Jorge. De certeza que um mês depois tudo estaria recomposto.
De resto, todas as viagens de barco entre as Ilhas mais pequenas – Corvo, Flores, Graciosa, São Jorge e Santa Maria, deveriam beneficiar de taxa muito reduzida, para que a economia dessas Ilhas pudesse desenvolver-se paralelamente. Chamem-lhe “discriminação positiva” ou o que quiserem. O facto de serem microeconomias necessitam incrementos inovativos e originais. Incentivos que lhes proporcione modos de vida iguais aos das restantes Ilhas. É assim na Grécia e nas Canárias e até na Madeira, entre esta e o Porto Santo, bem como por esse mundo fora. Apenas aqui, neste recanto do Atlântico Norte os políticos pensam de forma diferente…
Os Açores valem muito e nem todos estão à altura de saber rentabilizar a matéria-prima que a Mãe-Natureza pôs à nossa disposição.
PS - A Associação de Turismo dos Açores (ATA) não consegue um candidato para a presidir. Isso demonstra a gravidade do problema. Além disso, as inoperâncias desta associação, a par com os passados escândalos de corrupção, demonstram que ela é dispensável e que apenas serviu de mais um nicho para compadrios.

José Soares*

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