Diário dos Açores

O “Concorde” Açoriano: a nova combinação invencível... ou Invicta?

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Neste mês de Junho, para além da App, a Azores Airlines lança mais uma grande novidade cujo impacto e alcance certamente passarão despercebidos. A 26 de Junho às 8h00 descolará o primeiro voo Terceira-Montréal com regresso marcado para as 20h00 do mesmo dia. Isto significa que estes dois voos atravessarão o Atlânticodurante o dia em ambos os sentidos, algo que mais nenhuma outra companhia faz usando o mesmo avião e que só foi possível no passado utilizando o supersónico Concorde. A quase totalidade dos voos no sentido América do Norte-Europa são realizados durante a tarde/noite, chegando à Europa nas primeiras horas matinais do dia seguinte. Terceira e Londres são, na realidade, os únicos destinos europeus a beneficiar deste tipo de ligação diurna, mas apenas os A321LR da companhia açoreana conseguem realizar esta ida e volta no mesmo dia e sem necessidade de pernoitar do outro lado. O que esta solução tem de diferente é o fato de permitir aumentar a produtividade do avião sendo esta medida pelo número de horas e de voos que um mesmo aparelho realiza nas 24 horas do dia. Um avião parado não produz e continua a custar dinheiro e é por essa razão que as companhias têm de encontrar a melhor forma de conjugar a utilização da sua frota com critérios comerciais (rentabilidade, custos, tarifa média, oferta e procura), operacionais (disponibilidade de tripulações e de “slots” nos aeroportos, frequências) e legais (direitos de tráfego).
O posicionamento dito periférico dos Açores permite, sem dúvida, o aproveitamento desta única e recém-descoberta centralidade aérea: voar para a América como quem voa para qualquer outro destino Europeu poupando nos custos da estadia das tripulações e tendo o avião disponível mais depressa para realizar outros voos, por exemplo. Os desenvolvimentos tecnológicos dos últimos anos da indústria aeronáutica permitem ao Grupo SATA utilizaro mesmo tipo de avião altamente económico e sustentável para ligar os Açores ao Continente, à Europa, América e Cabo Verde. Esta uniformização da frota traz enormes vantagens financeiras a vários níveis. A capacidade destes aviões está igualmente ajustada àquilo que é o chamado tráfego “ponto-a-ponto” entre Açores e os vários destinos relevantes, ao mesmo tempo que permite explorar algum potencial tráfego de ligação. Neste sentido, poderíamos facilmente imaginar o A321LR começar e terminar o seu dia na Invicta num trajeto Porto-Terceira-Montréal-Terceira-Porto que poderia tornar a rota viável durante um período de tempo mais prolongado. Quatro voos com uma tarifa média razoávelnum ciclo de apenas21 horas é algo extremamente raro e vantajoso nesta indústria.O voo sazonal direto Ponta Delgada-Bermuda-Ponta Delgada traduz também esta nova flexibilidade e vontade de inovar por parte da empresa. E este modelo poderia inclusivamente ser multiplicado para outros destinos do grupo com partida do Porto via Açores, respondendo-se assim ao claro abandono do aeroporto Francisco Sá Carneiro pelas várias empresas públicas do setor controladas pela administração central e aumentando-se a cooperação entre as várias regiões do país. Na pequena cidade de Akureyri no Norte da Islândia, com menos 20 mil habitantes, 19 empresas privadas locais juntaram-se para criar uma companhia aérea, a Nice Air, com a missão de ligar aquele destino remoto diretamente à Europa. Empresários do Norte e do Porto, esta mensagem é para vós: a Azores Airlines, companhia aérea com provas dadas e com uma gestão muito promissora, será privatizada em 51% de acordo com imposições da União Europeia. Permitam-me, por isso, juntar ao azul que o Grupo SATA e o Porto já têm em comum, o verde da esperança de uma cooperação interregional que tem tudo para dar certo.


*Diretor da SkyExpert Consulting e docente em Gestão Turística no ISCE

Pedro Castro*

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