Para Irene Lucília, Betty Henriques, Ferdinanda Sousa, Nininha Jardim, João Carlos Abreu, Marcelino de Castro, José de Almeida Mello e Sandro Filipe Abreu de Freitas
Funchal
toda a cidade tem um rosto que amamos
com o seu e o nosso envelhecer
e porque viajar é dividir o coração pelos lugares
que nos deixamos ir
nos deixamos perder
ah as cidades têm um só rosto
algumas com cheiros doces de bananas e maracujás
e aromas das flores dos jacarandás
tão azuis que se confundem com o azul do céu
e o sol é uma visita permanente
sobre as copas das suas árvores onde aí adormece
como um menino cansado
calcorreamos a cidade e entramos na majestosa e rica Sé
para ver os painéis flamengos - já limpos do fumo das velas -
e seguimos para as demais ruas da zona velha do Funchal
com as suas casas seculares
algumas tão pequenas tão baixas
com as suas portas pintadas
onde figuram figuras humanas flores bucólicas paisagens
e até num relvado dum jardim o busto esculpido de Max
a sua boca sorri para nos acompanhar
inspiração de artistas locais
e nas paredes gritam cartazes
com poemas escritos pelos poetas madeirenses
da Irene Lucília João Carlos Abreu Maria Aurora Tolentino de Mendonça
e Herberto Helder e tantos mais
cumprem eles uma homenagem e um instante de leitura
poemas que descrevem a emoção do viver e sentir numa ilha
onde o coração e a alma se encontram
entre a terra e a vastidão do mar
só um ilhéu entende só sabe aquele que da ilha parte
e sabe dobrar os joelhos sobre a terra
e agradecer aos deuses se um dia puder regressar
a dádiva da curvatura e a beleza da imensa e rica paisagem
amamos as terras se nelas temos ou deixamos
alguém a quem podemos lançar um abraço
a quem na chegada ou na partida
deixamos a saudade vertida
na luz de uma lágrima
Victor de Lima Meireles *