Diário dos Açores

José Brum: Desportista, Atleta, Professor, Pedagogo e Treinador

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Desportistas do meu tempo

O Prof. José Brum da Silva Junior nasceu na Terra do Pão (ilha do Pico) e iniciou o seu percurso académico na Escola Primária local. Deu continuidade aos estudos no Liceu Nacional da Horta (Faial). Após completar o ensino liceal viajou para Lisboa onde frequentou o Instituto Nacional de Educação Física. Enquanto aluno do INEF foi jogador de voleibol do Benfica (1961 e 1962), então treinado pelo professor Nuno Barros, e alcançou a internacionalização em representação da seleção nacional sénior de Portugal. Concluído o curso de professor de educação física concorreu e foi colocado no Liceu Nacional da Horta (1961/62).
Entretanto, atendendo ao prestígio alcançado como atleta internacional e competência profissional demonstrada, foi convidado pela Universidade de Coimbra para supervisionar o Atletismo, o Rugby e o Voleibol, assim como   treinar as equipas representativas da Associação Académica de Coimbra. O excelente trabalho efectuado no desempenho das suas  funções técnico desportivas na AAC, durante seis anos (1962/63 a1968/69) ainda é recordado com saudade em Coimbra. A continuidade do seu trabalho não foi possível devido aos problemas existentes no país entre os estudantes e o então regime político. Pelo facto de ter conhecido o Prof. José Brum somente em períodos de férias passadas na ilha do Pico e sabendo que o Eng. Rui Andrade, meu antigo colega no Liceu de Angra do Heroísmo, tinha sido treinado pelo professor enquanto estudante universitário em Coimbra, solicitei a sua colaboração para nos ajudar a conhecer melhor este grande Desportista da ilha do Pico.
Professor José Brum, um “Homem do Pico”
Fui para Coimbra no ano de 1966, para fazer os preparatórios de Engenharia Civil e porque a minha prática e gosto pela actividade desportiva, durante o Liceu, tinha sido grande, desejava na universidade dar continuidade à mesma. O meu primo, também aluno universitário. Já no terceiro ano de engenharia eletrotécnica, que jogava voleibol na Académica, convenceu-me a ir treinar, o que fiz, mais para lhe fazer a vontade, pois tinha sido desporto que durante o liceu nunca me entusiasmara, talvez por não ser modalidade de prática corrente na ilha Terceira, ao contrário do basquetebol, que por influência dos americanos da Base das Lajes, tinha muitos adeptos e praticantes entre os quais eu me incluía.
A Académica voleibol treinava três dias por semana, à noite, depois de terminadas as aulas, no ginásio do Liceu D. João III. Chegado o dia, preparei o meu equipamento e lá fui acompanhado pelo meu primo que apresentou o caloiro aos colegas e treinador Prof. José Brum. A minha primeira impressão do Prof. foi a de um homem muito grande, sereno e inspirador de confiança e protecão. Depois dos “caldaços” da ordem para uma perfeita integração no grupo, o Prof. dirigiu-se a mim, sabendo já pelo meu primo, que eu nunca tinha jogado voleibol e a primeira coisa que me disse foi: Este jogo não é fácil por ser “antinatural” e explicou. Quando te atiram um objecto, uma bola por exemplo, a tendência é agarrá-la, pois no voleibol tens de a devolver de imediato com um só toque. Estás preparado para este desafio? Depois perguntou-me de onde eu era e ao saber que vinha da ilha Terceira e com raízes na Graciosa, Pico e S.Jorge, abriu um sorriso do alto do seu quase 1,90 m e diz-me: Somos dois Açorianos nesta equipa, conto contigo. Não podemos deixar mal as nossas ilhas, lembra-te que o Pico e S. Jorge têm tradição no voleibol.
Assim começou a minha aventura no voleibol da Académica e a amizade com o Prof. José Brum. Conto agora uma história que vinca o espírito divertido, de humor, de ironia, inteligência e tolerância deste “Homem Bom do Pico”.
Os treinos eram muito exigentes, com a sequência normal adaptada à modalidade, aquecimento, melhoramento físico e técnica individual, terminando com treino de conjunto para aperfeiçoamento táctico e fortalecimento do espírito de equipa. Nesta fase, que era sempre muito competitiva o Prof. formava equipas, mas nesse dia, porque só estávamos onze, a minha ficou só com cinco e, portanto, desfavorecida. Perguntei-lhe: Prof. não acha que para o jogo estar equilibrado tem de nos dar alguns pontos de avanço, ao que ele disse: A tua equipa está em vantagem, tem menos um a fazer asneiras. Com esta resposta imediata o Prof. deu-nos motivação extra para nos aplicarmos no treino, única forma de superação dos erros e melhorar a nossa performance.
Esta história que partilho convosco, lembrando José Brum, um“Homem do Pico: Professor, Pedagogo, Desportista, Atleta, Treinador” exigente e disciplinador que muito contribuíu para a minha formação humana e profissional.


*Com a colaboração de Rui Andrade

Eduardo Monteiro*

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