Diário dos Açores

De relance...

Previous Article O passe das Poças
Next Article O facto, o número e o nome

Um amigo que se ausentou - A guerra que a Rússia moveu contra a Ucrânia, cujo povo tem dado provas de grande heroicidade, tocou profundamente o coração da Europa e a aposta unânime é ajudar a recuperar uma Pátria que deseja continuar a ser livre, como recomenda todos os tratados internacionais.
Daí que, os bloqueios impostos ao poderoso e ignóbil agressor, tem trazido constrangimentos aos povos europeus, ainda não completamente recuperados da pandemia e das consequências negativas a que isso nos afectou.
Tenho recordado o que de parecido se passou com a II Grande Guerra, sobretudo o racionamento de bens essenciais à nossa sobrevivência, pois o que ouvia por minha casa é que era preciso poupar para se poder gerir o dia-a-dia, sobretudo o pão, o açucar, o azeite, a carne.
Nunca julguei que, após essa época cheia de tragédias, de mortes e de grandes percalços, já a caminho do século XXI ainda tivesse que assistir a um período que, se ainda não é semelhante, para lá caminhamos…
E, para já, em cada dia assistimos ao aumento dos bens  alimentares mais consumidos pelas famílias, obrigando-as  a rever os seus planos de vida.
 Para mim, um amigo de todos os dias – o meu «Diário», tal como o «Correio dos Açores», suspenderam a sua publicação em papel e, obrigatoriamente, «retomaram», como alternativa possível, a forma digital, que não está ao alcance de todos e até me obrigou a «rever» as  novas técnicas digitais.
A minha vizinha em frente, que vive só, diz que o seu jornal deixou de lhe ser entregue, não sabendo das notícias que lhe eram habituais…
Recordo que, naquele tempo, a administração dos jornais diários e semanários que por aqui se publicavam sofreram esse revês, mas ultrapassaram-na diminuindo o número de páginas que, de quatro, passaram a duas.
Terminada a guerra e estabilizadas as «finanças» dessas empresas gráficas, começaram a chegar novas remessas de papel. E, então, sobretudo nas edições dos sábados e domingos, passarama reintroduzir as quatro páginas: no «Diário», à segunda feira, para publicar as muito lidas secções: «Dia Feminino» e os «3/4 de século»; e, à quinta feira, a «Página de Letras», onde se estrearam muitos dos nossos poetas contemporâneos.
Ainda nestes dias de «ausência» tenho sobrelevado o trabalho dos distribuidores que, quer fizesse sol ou houvesse chuva, sempre chegavam a cada casa, depositando o jornal na caixa do correio…
E, bem merecem o seu «Pão por Deus…».
Também era por debaixo das frinchas da porta que o jornal chegava; e, como a cidade ainda não estava desperta para um novo dia, era sempre agradável ouvir aquele som subtil, que obrigatoriamente nos impelia a sair da cama e principiar a ler as últimas notícias.
Na outra «era» havia por vezes discussões entre considerados jornalistas acerca de problemas citadinos; e, como cada um queria ser oportuno quanto aos seus pontos de vista, a abordagem, sempre acalorada, merecia uma resposta rápida.
Contou-me o Dr. Carlos Carreiro que, num gesto de jornalismo «aguerridamente» juvenil que tivera com o seu amigo, Dr. Guilherme de Morais, que escrevia para o «Correio dos Açores», esperava que o jornal chegasse, de manhã, a sua casa, para logo depois lhe replicar na edição da tarde do «Diário dos Açores»…
Para mim, não receber o jornal do dia, 80 anos seguidos, foi como se ter ausentado do nosso convívio um AMIGO sempre disponível a uma informação credível, mas em papel, o que me permitia ler e reler linha a linha, parágrafo a parágrafo toda a edição e até guardar uma ou outra noticia mais relevante para memória futura.
As colecções dos nossos jornais constituem hoje - e estou convencido para sempre – uma das nossas maiores fontes de conhecimento histórico/social e político dos Açores e também do mundo.
Folhear cada número é reviver uma eternidade de factos e de valores. Daí que, «meu» caro e velho Amigo «Diário dos Açores», continuo a esperar pelo vosso breve regresso, mas em papel!

As Grandes Festas do Espírito Santode Ponta Delgada - Realiza-se neste fim de semana a XIX edição, desta feliz iniciativa «recuperada» pela Câmara Municipal de Ponta Delgada em 2012, durante a presidência da Drª. Berta Cabral e que, de ano para ano, tem constituído a afirmação da identidade cultural dos povos do nosso concelho, a que se junta a presença e representação da Vila de Alenquer, que a história regista como sendo o primeiro lugar onde a Rainha Santa Isabel as iniciou, desde logo e sempre em espírito de partilha, de solidariedade e devoção.
Como ao tempo «já andava por aí», tudo começou pelo levantamento e recolha do pouco que ainda existia nas casas de antigos mordomos, sobretudo quanto aos carros de «guincho» para a distribuição das pensões; e, nas velhas arcas, as bandeiras e os festões que os enfeitavam ou embelezavam o cortejo da coroação.
E, de ano para ano, tudo se tem aperfeiçoado através duma «aguerrida» rede de voluntariado, (que não tem paralelo nos nossos tempos) mas motiva as 24 freguesias do concelho num continuado sentido de unidade e de solidariedade que muitos quiseram contrariar, «apregoando» as mais díspares opiniões…
Mas o que é bom e é continuadamente reavivado nas suas origens permanece; e até constitui um cartaz turístico que se estende para além das nossas fronteiras.
Por outro lado – a comemoração deste ano - tem um sentido diferente, porquanto, após dois anos de interregno, tudo volta ao seu natural e Ponta Delgada vai abraçar de novo os povos do seu concelho que se preparam para desfilar num cortejo histórico/religioso e etnográfico que tem sido objecto de estudo e investigação, o que lhe confere enriquecimento humano e patrimonial.
Parabéns ao nosso Município na pessoa do seu «novo» Presidente, Dr. Pedro Nascimento Cabral, pois com entusiasmo e espírito de açorianidade continua – com a cooperação dos seus mais directos colaboradores e também trabalhadores - a dar seguimento ao projecto que tão bem souberam desenvolver os seus antecessores.
Estarei atento à Televisão, que tem sido um excelente meio de comunicação, transmitindo, a quantos como eu, a recordação de outros bons momentos em me também me vi envolvido!
Um abraço a todos!
Que se divirtam, mas também que se cuidem…

Rubens Pavão *

Share

Print

Theme picker