Diário dos Açores

Situação muito perigosa

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Parece que já estamos habituados às imagens de destruição e morte que todos os dias nos entram pela sala de estar dentro, através da televisão, procedentes do conflito em curso na Ucrânia. Foi-se mesmo criando uma certa crosta de indiferença, porque afinal tudo se passa muito longe e não nos está afectando directamente. Mas isso não é mais, afinal, do que uma inconsciente auto-defesa psicológica face ao horror da guerra, que em boa verdade já nos está batendo à porta, no aumento do custo de vida, particularmente dos combustíveis, e em alguns países está mesmo gerando carências alimentares brutais, fome, no mais duro sentido da palavra, e consequentemente revoltas populares e novos êxodos de migrantes em busca de amparo nos países ricos do Hemisfério Norte, na Europa ou na América. E, infelizmente, não surgem no horizonte perspectivas animadoras.
A invasão da Ucrânia pela Rússia está decorrendo em termos de uma crueldade brutal. Dizem que tem sido sempre assim, em todas as inúmeras guerras em que a Rússia tem estado envolvida ao longo dos séculos. Mas no passado não havia a proximidade às zonas de confrontação que hoje, graças aos meios de comunicação social, existem. Por outro lado, os reflexos económicos e sociais da guerra andavam também mais devagar e agora tudo se passa em directo e com efeito imediato.
Ao invadir a Ucrânia, sem justificação objectiva, a Rússia quebrou as regras fundamentais que regulam a convivência internacional desde o final da II Guerra Mundial, constantes da Carta da ONU. Tornou-se portanto um estado fora da lei! E a Comunidade Internacional, através dos órgãos competentes da ONU, devia sancioná-la e obrigá-la a respeitar a integridade territorial e a independência nacional do país agredido, as quais aliás se comprometeu a respeitar nos tratados internacionais firmados depois da dissolução da defunta União Soviética, de má memória.
Ora, o que tem vindo a passar-se demonstra a falência do sistema da ONU, sabotado por dentro desde o início pelo privilégio do direito de veto no Conselho de Segurança reconhecido  aos países vencedores da II Guerra Mundial, um dos quais é a própria Rússia. E mesmo o eventual recurso à Assembleia Geral não tem garantia de reverter o statu quo, porque, como já se viu, a Rússia tem nela apoiantes de peso e seria por isso difícil formar maioria que a declarasse incursa em responsabilidade internacional e porventura a expulsasse da Organização, tornando-a em Estado-pária, se é que tal fosse mesmo possível...  
Assim talvez se explique a passividade do Secretário Geral da ONU, que só depois de uns valentes empurrões se decidiu a ir a Kiyiv e a Moscovo, limitando os objectivos da sua tardia intervenção a questões de tipo humanitário e por isso embandeirando em arco por ter conseguido a abertura de um corredor de saída para civis cercados em zona de operações militares, mesmo depois de ter comprovado pessoalmente os massacres de Bucha, gritantes crimes de guerra.
A firme determinação das Autoridade Ucranianas em manter a sua legítima defesa é deveras motivo de admiração e esperança. Os governos dos países da União Europeia e da NATO, que têm fornecido à Ucrânia armamento cada vez mais sofisticado e ajuda financeira, estão a cumprir as suas obrigações de colaborar em tal legítima defesa, consagrada na Carta da ONU. Os pedidos de adesão à NATO da Suécia e da Finlândia, largamente apoiados pelos respectivos cidadãos, comprovam que a Rússia, sob a sua actual liderança, se tornou um Estado perigoso para os seus vizinhos, que justamente o encaram como uma ameaça à paz e à segurança internacional.
Por quanto tempo se conseguirá manter esta situação? Eis aqui a grande incógnita! Para já a opinião pública nos países democráticos envolvidos no apoio à Ucrânia mantém-se firme. Mas o cansaço da guerra pode vir a sentir-se e então é que vão ser elas... Se a Rússia ganha mais esta guerra, depois de ter anexado a Crimeia e parte da Geórgia e esmagado à bomba a Chechénia e a Síria, todo o equilíbrio de poder estabelecido na Europa depois do colapso da União Soviética e do comunismo internacional - o embuste do século, como magistralmente o definiu Mário Soares - ficará sob ameaça. Ora, o grande apoiante da Ucrânia no Governo do Reino Unido está de saída de cena; e nos Estados Unidos, pelo que se vai lendo na grande imprensa internacional, o nefando “trumpismo” pode ser que volte.
O ditador russo já lembrou que tem em seu poder armas nucleares e que não hesitará em fazer recurso a elas se os interesses fundamentais da Rússia estiverem em causa, o que só a ele competirá definir. Além disso, desafiou os países da NATO para o combate contra a Rússia em campo de batalha, numa provocação inaudita e por isso à qual só é possível fazer orelhas moucas, em sinal de desprezo, continuando a enviar armas e dinheiro para a Ucrânia.
A Rússia não é invencível, nem tampouco os Estados Unidos, apesar de ambos terem enormes arsenais nucleares. O ditador russo deve ser avisado que, no dia em que se atrever a mandar lançar mísseis com ogivas nucleares contra a Ucrânia, ou qualquer outro país aliado, vão chover bombas atómicas sobre o Kremlin e sob qualquer outro lugar em que esteja escondido, de modo a riscá-lo da face da Terra e aos seus apaniguados oligarcas, que misteriosamente têm vindo a ser encontrados mortos, por vezes até com as suas famílias, nas suas imponentes mansões... Não é conveniente deixá-lo a rir-se, com sensação de impunidade!

João Bosco Mota Amaral*

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