Diário dos Açores

Vítor Rocha: Uma vida dedicada à juventude açoriana através da Patinagem

Previous Article O dilema do desenvolvimento do Pico
Next Article Memórias de Macau VII: Da Europa ao Oriente-do-Meio

Desportistas do meu tempo

Quem teve a oportunidade de conviver com o Vítor Rocha conhece perfeitamente as qualidades humanas que pautaram toda a sua vida. Foi um desportista exemplar, nascido em 1934, na freguesia das Angústiasna ilha do Faial. Oriundo da escola de formação desportiva do prestigioso Sporting Club da Horta aos 16 anos de idade já jogava hóquei em patins na principal equipa do clube pelo qual também jogaram,Fernando Ribeiro, Silveira, Fernando Reis, Manuel Neves, Cristo, Rui Lima, Mário Garcia, José Vieira, António Freitas, Carlos Antero, Fernando Silva, Luís Batista, Vitor Silveira, João Castro, Jorge Dart, Francisco Gonçalves, Lima Ventura e Raimundo Mesquita entre outros. Enquanto residente na ilha azul tambémfoi praticante de ténis de mesa e futebol. Em 1956, por motivos de ordem profissional foi transferido para a ilha Terceira passando então a representar o Sport Club Angrense, durante vários anos, até a modalidade deixar de ser praticada no clube.
Embora, tenha sido praticante de diversos desportos, foi no hóquei em patins que atingiu maior notoriedade, não só pela sua capacidade técnica  mas principalmente pela maneira como interpretava o próprio  jogo. A sua entrega à competição era caracterizada por uma atitude dinâmica que contagiava os companheiros de equipa e que era do agrado do público que delirava com a intensidade do espectáculo desportivo. Teve como companheiros de equipa no Sport Clube Angrense Vitor Fragueiro, Guilherme, José Metade, Gaspar e Manuel Jorge, tendo igualmente feito parte da selecção da ilha Terceira.
Sempre que tínhamos oportunidade, enquanto alunos do Liceu, não perdíamos os grandes encontros de hóquei em patins realizados, a céu aberto, no ringue de patinagem. Muitos colegas nossos ficaram entusiasmados com aquilo que viram nas competições locais de hóquei em patinse aderiram à modalidade chegando mesmo a participar nas diversas provas integrados nos clubes da cidade. Ainda nos recordamos de alguns deles como o Fernando Castro,Jorge Bretão, Diocleciano Silva, Luís Bretão,  Zeca Berbereia e Luís Ourique.
A partir de 1982, por força das nossas actividades profissionais, tivemos a felicidade de trabalhar com o Vítor Rocha e ficámos deveras impressionados com o interesse e dedicação que ele tinha pelo ensino da patinagem às crianças e do hóquei em patins aos rapazes de tenra idade. Estava sempre disponível para a promoção da patinagem ou orientar treinos, a qualquer hora e em qualquer local, onde houvesse um recinto com condições para se patinar. Ainda por cima, com a vantagem de ter a habilidade de recuperar patins velhos (o porta bagagens da sua viatura era uma verdadeira oficina) e os adaptar aos tamanhos dos miúdos que queriam experimentar a arte de se movimentar com uns patins calçados.De facto, nunca tínhamos visto nada assim, pelo que as suas capacidades foram bem aproveitadas e as suas funções  alargadas a todas as ilhas com muitos e bons resultados.
Naquela altura (anos oitenta) a Patinagem foi uma das modalidades desportivas que mais se desenvolveu nos Açores, não só através do hóquei em patins, mas também na patinagem artística e nas corridas em patins. Foram organizados, com regularidade, torneios regionais de iniciados em hóquei em patins com a participação da maioria das ilhas. Na Madalena do Pico foi construída a melhor pista de corridas em patins do país, que permitiu a organização, em colaboração com a Federação Portuguesa de Patinagem, de diversos campeonatos nacionais e europeus da modalidade.
Como resultado destas iniciativas foram criadas  Associações de Patinagem nalgumas ilhas, antigos praticantes foram motivados para fazerem parte dos órgãos sociais, outros vieram transmitir os seus conhecimentos às novas gerações, tendo alguns participado em cursos de formação. Como consequência, muita miúdagem passou a gostar de patinar e de competir no hóquei em patins, nas corridas de patins e na patinagem artística. E tudo istoaconteceu porque houve uma pessoa, de seu nome Vitor Rocha que, era conhecedor do estado lastimoso em que se encontrava a modalidade, teve ideias para se alterar a situação, a sua disponibilidade era total e que, progressivamente, foi desencantando antigos praticantes para as tarefas de ensino e de desenvolvimento da patinagem nos Açores.
O seu trabalho foi orientado por uma uma seriedade e eficácia notável. Sabia incutir na rapaziada o gôsto pela patinagem, através de uma dedicação sem limites e de uma atitude de permanente segurança nas actividades desportivas. Assim, num sábado de manhã,enquanto decorria um treino no antigo ringue de patinagem, o Vitor Rocha apercebeu-se que a força do vento estava a aumentar de uma forma demasiado intensa, pelo que interrompeu, imediatamente, o treino e mandou a malta toda para casa. Algumas horas depois a estrutura que cobria o ringue de patinagem foi pelos ares devido ao temporal que rápidamente surgiu por aquela zona da cidade.
Esta situação, que poderia ter sido trágica, funcionou como um alerta para os responsáveis locais para a necessidade da substituição do ringue de patinagem por uma instalação desportiva condigna da cidade Património Mundial.O acontecimento, deu origem a uma acção conjunta da Secretaria Regional da Educação e da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, então liderada por Joaquim Ponte, que culminou com a construção do actual Pavilhão Desportivo Municipal, um excelente recinto para a prática desportiva e que muito veio beneficiar o desenvolvimento desportivo da ilha Terceira, dos Açores e da patinagem em particular. Vítor Rocha foi o impulsionador da formação da Associação de Patinagem da Ilha Terceira, tendo feito parte da Comissão Instaladora. Também foi dirigente, coordenador técnico e posteriormente nomeado “Sócio de Mérito”. Alguns anos mais tarde algumas instituições chegaram a reconhecer o trabalho efectuado por Vitor Rocha, mas nunca com a dimensão que seria de esperar.     
Fomos um admirador de Vítor Rocha, enquanto  estudante liceal, pelas suas qualidades como praticante de hóquei em patins no Sport Club Angrense, onde também jogámos futebol. A partir de 1982, quando começámos a trabalhar em conjunto, a nossa admiração aumentou por força das suas qualidades humanas e trabalho que realizava junto da juventude açoriana no desenvolvimento da patinagem.Actualmente, sempre que nos cruzamos com pessoas que com ele conviveram e reconhecem o trabalho realizado, o seu nome é tema de recordações gratas de situações vividas no âmbito desportivo.
Até sempre.

Eduardo Monteiro *

Share

Print

Theme picker