Diário dos Açores

Incongruências

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Transparência

Não faz nenhum sentido que os produtores de leite de algumas Ilhas recebam menos por litro de leite do que outras Ilhas. Nos Açores, a qualidade do produto é inegável e esta desigualdade só comprova o procedimento abusivo nesta área, onde o trabalho é bastante duro e sem domingos nem feriados, pois as vacas não fazem pontes de fim-de-semana… nem escolhem só dias de sol para dar leite. Este tem de ser tirado todos os dias, faça chuva ou sol, frio ou calor, para que tenhamos uma matéria-prima de ótima qualidade – que é o nosso leite. No entanto, é mal pago pela indústria que o transforma nos mais diversos produtos. E estes produtos só atingem qualidade premiada (alguns deles) porque a matéria-prima é das melhores – o leite.
Torna-se necessária a intervenção do governo e de todos nós, a defesa dos nossos produtos, bem como qualquer sinal discriminatório para com qualquer das nossas Ilhas, especialmente tratando-se das mais pequenas e de frágil economia.
A discrepância de preços sobre o leite de Ilha para Ilha não faz qualquer sentido senão de pura discriminação. Pagar ao lavrador 25 a 30 cêntimos em São Jorge e 35 a 40 em São Miguel, choca qualquer ideia de unidade regional e pode mesmo constituir uma ilegalidade constitucional.
São nestas graves situações que o governo açoriano deve atuar junto dos industriais, sem medos e com a coragem social que lhe é exigida, na defesa de direitos naturais, neste caso em particular, dos direitos dos lavradores-produtores de leite.Trata-se apenas igualar direitos básicos entre os mesmos cidadãos, da mesma profissão e que estão certamente a ser vítimas de discriminação e até a ser explorados e abusados por não terem alternativa de venda a outros compradores.
Este regime autonómico, por mais frouxo que seja e é, deve muito à Lavoura Açoreana que veio para a rua manifestar-se em 1975, num protesto reivindicativo que passaria pela independência, sendo a semente que germinou a presente situação de regime autonómico. Parece que a memória coletiva é curta, embora compreenda que ela é ausente nos mais jovens que desconhecem estes fatos históricos que lhes são propositadamente omitidos no ensino escolar.
Está pois no âmbito das entidades responsáveis, nomeadamente da Secretaria Regional da Agricultura e do Desenvolvimento Rural, bem como do governo dos Açores, a defesa intransigente de uma classe que está em vias de extinção, mas que sem a qual e da qual depende uma valiosa matéria prima para a alimentação pública – o leite.
“É imprescindível que o preço de leite praticado na região seja o mais adequado e vá de encontro às legítimas esperanças dos produtores.” (Federação Agrícola dos Açores).
A falta de mão-de-obra também está a atingir a lavoura e os custos dos recursos humanos aumentaram consideravelmente nos últimos cinco anos. Há mesmo o caso de uma fábrica de leite do norte da Ilha de São Miguel que mandou vir três robôs para serviços de manutenção de stock. Para tal despediram 15 pessoas que as máquinas substituíram sem problema.
Resta saber se a mesma solução pode ser aplicada às vacas… além das ordenhas já existentes.

José Soares *

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