Diário dos Açores

Um final feliz ou felizes para sempre?

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Já pensou que sempre que desejamos algo, a imagem do produto final fica retida na nossa mente como algo perfeito mas utópico? Um cenário idílico, que acabaria com grande parte das nossas inquietações, mas enevoado e longínquo. Raras são as vezes em que fantasiamos com o processo, com subir a montanha. Mas e se cada vez que se aproximasse do topo, onde se encontram os campos de flores, surgisse outra montanha? Ao analisar, em retrospetiva, a sua vida, quantas vezes conheceu somente um campo de flores? Até as rosas têm espinhos.
Neste instante, poderá sentir-se enganado, como se lhe tivessem falhado a promessa da luz ao fundo do túnel, masproponho-lhe uma nova perspetiva, em que se concentre na iluminação ao longo do percurso e disfrute do túnel.
Para tal, peço-lhe que pense no seu dia e em todas as atividades que realizou e, de seguida, identifique as que possam contribuir para chegar ao seu cenário idílico, ao topo da montanha. Quantas vezes o próximo Cristiano Ronaldo, hoje, jogou futebol? Agora apresento-lhe dois jogadores que, apesar de derivarem das mesmas condições e contexto, diferem na única ferramenta sob a qual possuem controlo, o seu pensamento.
Perante a impossibilidade de remover a montanha e sagrar-se, já, o melhor jogador do mundo, resta-lhes, efetivamente, o processo de escalar. Mas todos nós, ou grande parte, escala, diariamente, os nossos desafios. No entanto, somos felizes durante o processo? Recordo que as montanhas acompanham-nos durante todo o percurso. Assim sendo, estaremos condenados à infelicidade? O que vos garanto é que estamos, de facto, condenados às montanhas.
Perante a frustração que tal premissa pode originar, saliento a nossa ferramenta de controlo, o pensamento. Assim, o Jogador 1 interpreta os jogos diários como obrigações quetem de executar para atingir o topo da montanha e o Jogador 2, por sua vez, vê nos jogos diários o, já, quotidiano do melhor jogador do mundo.
 A tarefa mantém-se, bem como todo o rigor necessário para o seu sucesso, porém o Jogador 1 será feliz quando se tornar o melhor do mundo e o Jogador 2 já o é.
Fique bem pela sua saúde e a de todos os açorianos.
Um conselho da Delegação Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses.


* Psicóloga na Divisão de Ação Social, Educação e Promoção da Saúde da Câmara Municipal da Ribeira Grande

Ana Teixeira*

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